terça-feira, 26 de maio de 2009

Contra o capital, emergem os Black Blocs


[Como se viu na reunião da cúpula do G-20 em Londres, os Black Blocs são a lança inflexível dos enfrentamentos com a polícia, a destruição de propriedades capitalistas e a ocupação momentânea de certas zonas centrais das cidades.]

Hakim Bey poderia contemplar a influência de sua obra através das telas de televisão. O teórico da TAZ, Zona Autônoma Temporária (Temporary Autonomous Zone), criou um conceito que determinados grupos logo converteram nos Black Blocs. Estes grupos são os que, no curso das manifestações contra o G-7, a OTAN, o FMI e o G-20, ocupam a cabeceira das mobilizações e se transformam em comando de choque: sucursais de bancos destruídas, automóveis de luxo queimados, vitrines de lojas “para ricos” quebradas e enfrentamentos diretos com as forças da “ordem” que caracterizam um modo de ação que remonta os anos 80 e que a partir dos 90 utilizou os princípios enunciados por Hakim Bey. Este autor anarquista se chama na realidade Peter Lamborn Wilson. Escritor, poeta e político, Wilson se define como um "anarquista ontologista".
Sua obra, que é escrita com o pseudônimo de Hakim Bey, teoriza uma força crítica de ocupar o espaço controlado pelos aparatos estatais. As TAZ “aparecem e desaparecem para escapar melhor dos agrimensores do Estado. As TAZ ocupam provisoriamente um território, no espaço, no tempo, no imaginário e se dissolve enquanto está sendo repercutida. (...) A TAZ é uma insurreição fora do Tempo e da História, uma tática de desapropriação”. A tradução mais extrema e moderna desse enunciado foi modelada nas operações do que hoje são chamados os Black Blocs: ocupar um território ou espaço durante uma manifestação, destruir propriedades capitalistas como bancos, comércios de luxo, sedes de multinacionais e expressar com isso o repúdio ao sistema.
Como se viu na reunião de cúpula do G-20 em Londres, e a da OTAN organizada dias depois na cidade francesa de Estrasburgo, os Black Blocs são a lança inflexível dos enfrentamentos com as forças da “ordem” e a ocupação momentânea de certas zonas centrais das cidades: “Se trata de mostrar ao poder que isso é uma nuvem de desordem, e de celebração anti-sistema capitalista”, explica Julien, um Black Bloc belga que participou da tomada do Banco da Inglaterra durante a reunião do G-20 e logo depois viajou à França para integrar os BB que participaram das manifestações em Estrasburgo durante a reunião da OTAN.
OTAN, Banco Mundial, G-7, G-20, Fundo Monetário Internacional, Cúpulas Européias, Organização Mundial do Comércio, são “nossos alvos ‘preferidos’ porque estas instituições encarnam a pior versão da gestão de assuntos humanos”, complementa Julien. Os BB não são, contudo, um movimento organizado ou uma estrutura funcional com uma doutrinação. Se trata de um núcleo horizontal, de um grupo de afinidades que se formam segundo as ocasiões e que conta com componentes de várias linhas: anarquistas, anticapitalistas, libertários, extrema esquerda, autônomos, ecologistas radicais, etc, etc. Jonathan, um aguerrido irlandês de 26 anos, adverte que não se é do Black Blocs, como se afirma ser comunista ou de extrema esquerda. Black Bloc não é uma “marca” mas sim pertence em suas atitudes a eles mesmos. “Não somos uma nuvem anarquista como nos definem por aí, mas sim encaramos uma determinada maneira de assumir nossas ações.” Os BB mudaram o esquema de organização tradicional do movimento operário, estudantil e de movimentos sociais. Os chamados “grupos de afinidades” representam a idéia de comunidade ou de pertencimento à uma classe para criar uma gestão não-centralizada, independente das demais, mas com um objetivo de ação em comum, para aquele determinado momento: sejam os bancos, lojas de luxo etc.
A marca operacional dos BB já deu a volta ao mundo, sempre entram em cena com carrinhos cheios de projéteis como limões e soro fisiológico contra os gases lacrimogêneos. Alguns usam capacetes de moto, outros panos cobrindo o rosto, máscaras de natação ou de esqui, máscaras de gás ou com rostos de algum dirigente mundial, paus, correntes e em alguns casos coquetéis molotov. Jean Michel, um BB francês que foi detido em Estrasburgo logo após o incêndio de um hotel e de um centro comercial, admite que com essas ações “não é para mudar a sociedade, ou transformar radicalmente o sistema. Mas queremos ao menos demonstrar que não nos resignamos, que frente à violência oficial que nos é impingida diariamente, à todo o controle, a desigualdade destruidora e à impunidade dos sistemas há uma confraria insurgente que afirma que esse não é o seu sistema, e nem suas práticas”.
O nome Black Blocs provêm dos primeiros grupos críticos, quando no centro das manifestações se agrupavam em bloco, vestidos de negro. As interpretações de suas origens, ainda que divergentes, tem uma mesma raiz: são os movimentos de ultra-esquerda da Europa que iniciaram as ações dos anos 80. Entre eles, se destaca o movimento autônomo alemão, que se caracterizou pelo enfrentamento direto com a polícia, e ocupação de ruas e espaços públicos. O coletivo alemão "Schwarzer Block” se formou nos anos 80 em defesa de lugares autogestionados e do direito à ocupação de casas desocupadas. Este ramo nascente propunha uma crítica e uma prática radical em total ruptura com os modos de protesto tradicionais. Os BB entraram logo em cena, em ocasiões ambas muito reprimidas: uma em 1991 nos Estados Unidos durante a manifestações contra a Primeira Guerra do Golfo, a segunda e mais espetacular em 30 de novembro e 1 de dezembro de 1999, na cidade de Seattle, quando da reunião de cúpula da OMC. A reunião teve de ser interrompida graças às manifestações e ações provocadas pelos BB.
Foram a partir desses episódios que os Black Blocs levaram a prática a idéia de Zonas Autônomas Temporárias teorizada por Hakim Bey. Os BB destruíram vitrines de bancos, cafés, restaurantes, bares burgueses e sucursais da Nike. Ao longo de muitas horas, mais de um bairro da cidade de Seattle foi ocupado e transformado em ZAT.
O grupo Revolutionary Anti-Capitalist Block (RACB) e Anti-Statist Black Bloc (ASBB) são os BB mais conhecidos pela envergadura de suas ações. Há também grupos como os Clown Bloc, que introduziram uma forma distinta de ocupação mediante a paródia na esfera pública oficial e as instituições graças à uma demonstração de espetáculos e teatros de rua.
Ainda que o princípio dos Schwarzer Block estendeu-se ao mundo inteiro, segue sendo na Alemanha onde persistem com mais força. Os BB agrupam mais de 70 organizações cuja atividade vai de Berlim, passando por Hamburgo, Ruhr até Dresde. Segundo informes alemães, esse exército anarquista apresenta por volta de 6000 pessoas. A forma desses grupos se encontrarem tem sido a internet, uma passarela de comunicação ideal que vem “decompor a imagem das instituições e do sistema que domina o mundo”, explica Franz, um BB alemão. Antônio, de origem espanhola, resume todo o pensamento dos BB quando afirma: “A única forma de colocar o capitalismo em perigo é atacando seu coração, ou seja, a propriedade”. Os Black Blocs se apresentam como um antídoto contra o conformismo. No entanto, seu modo de ação há acentuado também a amplitude e brutalidade da repressão policial e das “forças da ordem”. Antonio, porém, descarta essas críticas ao explicar: “É o preço para que o capitalismo exterminador sofra em sua própria carne as degradações humanas que ele mesmo comete”, uma vez que, com ou sem BB, as repressões policiais e violências, sempre estiveram aí.

Por Eduardo Febbro - Desde Paris

Tradução > Palomilla Negra

agência de notícias anarquistas-ana

A diversidade do movimento anarquista mundo afora


[Acontecerá nos próximos dias em diversas partes do mundo uma série de eventos libertários que espalham a luta, a intensidade, a vibração, a história e a diversidade do movimento anarquista atual, que, "aos trancos e barrancos", segue crescendo paulatinamente. Na seqüência uma "pequena" mostra desta vivacidade anárquica.]
[Portugal]
Em 22, 23 e 24 de maio acontece em Lisboa a “Feira do Livro Anarquista”. Segundo o/as organizadores da jornada, eles querem “ir além da informação e da opinião. Partindo de diferentes projetos, pretendemos criar um espaço de discussão, reflexão, encontro e confronto de idéias anarquistas, onde cada um destes projetos se possa desenvolver. Numa tentativa de encontrar e conhecer outros indivíduos e descobrir potenciais cúmplices no que cada um de nós deseja, continuamos (e continuaremos) a dar importância à palavra escrita enquanto ferramenta de comunicação e ataque.” Mais infos: http://www.blogger.com/feiradolivroanarquista.blogspot.com
[Reino Unido]
Anarquistas da cidade de Cardiff vão realizar pela primeira vez, em 23 de maio, a "Feira do Livro Anarquista". O encontro apresentará durante um dia palestras, debates e um espaço para a criação de redes, bem como barracas com livros, revistas, jornais, DVDs, CDs, camisetas, bottons e muito mais, com as contribuições de grupos locais, nacionais e organizações internacionais, distribuidores, editores, campanhas, ativistas e coletivos anarquistas. O evento será encerrado com um grande painel de discussão sobre "o tipo de movimento anarquista que queremos". Mais infos: http://www.southwalesanarchists.org/
[Itália]
Acontece em Modena, numa antiga fábrica de queijo ocupada, nos dias 22, 23 e 24 de maio, a tradicional "Feira da Autogestão". Três dias de debates, exposições, mostra de filmes, concertos e oficinas práticas aqui e agora de alternativas autogestionárias. Exemplo: "Laboratório de autoprodução de energia solar". Mais infos: http://www.libera-unidea.org/
[México]
A Federação Local Libertária organiza no dia 23 de maio, no Centro Social Libertário Ricardo Flores Magon, no Distrito Federal, capital do México, a “Videorevista SIN(A)PSIS e NOTILIBERTAS”. Si[a]psis é um projeto de contra-informação audiovisual cujo objetivo é a difusão das idéias e práticas de distintos movimentos sociais autônomos, autogestivos, revolucionários e libertários na República do Chile. Por outro lado, A Cooperativa Libertas Anticorp é um projeto libertário que trabalha os meios livres, mediante a criação e difusão de material de TV pela internet e material de vídeo documental copyleft e creative commons. São abordados temas do movimento político- social no México como Oaxaca, Atenco, Chiapas, Guerrero etc. Na programação do evento palestras com o/as realizadore/as de ambos os projetos; projeção e debate dos melhores trabalhos de ambas as produtoras libertárias; e venda das edições de Videorevista Sin(a)psis e os documentários da Libertas Anticorp. Mais infos: http://colectivoautonomomagonista.blogspot.com/
[Brasil]
No Rio de Janeiro, nos dias 26 e 27 de maio, acontece o “Colóquio 200 Anos de Proudhon”. De acordo com os organizadore/as, a realização deste colóquio “visa apresentar este pensador aos setores dos movimentos sociais e comunidades acadêmicas que se interessem por ter contato com a vida e a obra de Proudhon, explorando diversos temas como: “Proudhon e a Dialética”, “O mito da classe produtiva em Proudhon”, “A Contribuição de Proudhon para o Brasil”, “Crítica à Propriedade pelo Movimentos Sociais”, “Proudhon e a Franco-Maçonaria”, “Proudhon e Educação”. Mais infos: http://www.ifcs.ufrj.br/~amorj/
Ainda no Rio de Janeiro, no Centro de Cultura Social, no dia 23 de maio, acontecerá o lançamento do livro "Anarquismo Social", feito pela Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), “após cinco breves, mas não menos intensos anos de luta política e social”. A obra lietrária passa por diversos temas: anarquismo social; luta de classes e relações centro-periferia; breve história do anarquismo no Brasil; perda e tentativa de retomada do vetor social do anarquismo; capitalismo e Estado; a revolução social e o socialismo libertário como objetivos finalistas; os movimentos sociais e a organização popular. Na ocasião também será inaugurado o cine-clube “Tiê-Sangue”, com a exibição de filmes produzidos pelos coletivos de produção visual “Tiê-Sangue” e “Bucaneiro”. Durante o evento comes e bebes. Mais infos: http://www.farj.org/
[Espanha]
A "Feira Libertária" de Madri acontece em 22, 23 e 24 de maio. Na programação debates: “Nacionalismo e Anarquismo”, “Movimento Obreiro durante os anos 70 e 80”, “Mulher e Anarcosindicalismo”; mostra de vídeos: “Movimento de bairro em Atenas”, “Mulheres Livres”; mais exposição, venda e lançamento de livros: “José Pellicer. Um Anarquista”, “Anarcosindicalismo. Teoria e Prática”. Todos os dias comedor vegano. A Feira é organizada e acontece no amplo espaço da Federação Local de Madri da CNT-AIT. Mais infos: http://sovmadrid.cnt.es/comunicamos6.htm#feria
Em Barcelona, de 26 a 31 de maio, acontece o “OVNI 2009 RIZOMAS”, com uma extensa e ótima programação de vídeos, concertos, intervenções e debates, com John Zerzan, do Green Anarchy, “Critica da Civilização”; Espai em Blanc, “Digno é tudo aquilo que merece não ser destruído”; Abdelnour Prado, “O islam como anarquismo místico”; E.Duran, M.Deriu e F.Schneider, “Frente à crise do crescimento, Decrescimento!”; e Alberto Arce. “Gaza, Riscados do mapa”. Mais infos: http://www.desorg.org/ Rizomas: “Um sistema sem centro, hierarquias nem significado fechado, sem um General e sem memória organizativa ou automatismo central, definido unicamente por uma circulação de estados e intensidades”.
A “8º Tatoo Convenção" de tatuagens beneficente aos preso/as e acusado/as judicialmente, acontece em Barcelona, no Ateneu del "Maig 37", em 22, 23 e 24 de maio. A primeira Convenção foi realizada em Roma (Itália), em maio de 2007, depois em Torino, Barcelona em outubro de 2008, em maio de 2008 novamente em Roma, em setembro em Chiclana, Cadiz, em outubro em Tessalônica (Grécia), e neste ano, em 15, 16 e 17 de maio em Roma e agora em 22, 23 e 24 em Barcelona. O/as organizadore/as explicam: “A cada ano se expande mais o “Tattoo Circus” como outra ferramenta solidária e autogestionária. Na “Tattoo Circus” participam tatuadores, piercings, malabaristas e tantos outros personagens de forma desinteressada, sem fim lucrativo, em um encontro solidário comum, a Liberdade! Não se pretende competir, nem exigir níveis artísticos. Participam quem esteja aberto a um encontro de amizade, intercâmbio de experiências e, sobretudo, uma causa comum. A entrada não será cobrada, mas não pode entrar cachorros, nem outro animal, por uma questão de higiene. O bar terá preços populares e os comedores serão a vontade, porque pretendemos uma consciência sem exigir um preço pautado. Neste fim de semana desfrutaremos de grafites, exposições de cartazes, tatuadores de diferentes estilos, escarificações, concertos, comidas, uma variedade de malabaristas, acrobatas, clown, equilibrismo, trapézio, mágicas, suspensões (se buscas adrenalina, venha se pendurar!), curtas metragens, amigo/as, risadas, surpresas, aplausos, criatividade, informação, DJs, bailes, tragos e muuuuuita tinta.”
De 23 até 30 de maio a CNT-AIT de Sevilha organizará a "XI Jornadas Libertárias". O/as organizadore/as contam: “A Jornada começa com uma festa com as avós de São Bernardo e culminam com itinerário histórico nas vizinhanças onde foi gestada a resistência trabalhadora ao Golpe de Estado de 18 de julho de 1936. Em ambas caminhadas conheceremos histórias diversas que representam uma mesma luta para conquistar e construir espaços de liberdade e solidariedade. Assim apresentaremos o livro “Anarquismo e Antropologia”, do nosso companheiro Beltrán Roca. Também conheceremos propostas de autogestão libertária como alternativa ao modelo capitalista atual. Além disso, debateremos a luta pela defesa de uma cultura livre, contra as políticas oficiais restritivas que estão sendo impostas e intensificadas dia-a-dia, e ainda teremos a oportunidade de passar uma tarde com o/as vizinho/as de alguns bairros em luta de nossa cidade, que compartilham o objetivo comum de ser protagonistas de sua própria história cotidiana. Estas Jornadas será um lugar de encontro, debate e discussão ao redor de idéias e práticas de luta coletiva e um espaço comum em que vamos nos divertir, compartilhar experiências, abrir novas perspectivas e somar forças para continuar a luta.” Em todos os dias da Jornada haverá degustação de produtos da La Ortiga (cooperativa de consumo de produtos ecológicos de Sevilha). Mais infos: http://sevilla.cnt-ait.es/cms/index.php?option=com_content&task=view&id=191&Itemid=1
[Grécia]
Durante os dias 27, 28, 29, 30 e 31 de maio acontece a "4˚ Feira do Livro Anarquista" dos Bálcãs, nos dias 27 e 28 a Feira rola em Tessalônica, já em 29, 30 e 31 o evento passa a acontecer em Atenas. Ambas sob o lema “Bálcãs, da exploração e nacionalismo, aos Bálcãs de solidariedade e luta”. Na programação, além das mostras de vídeos e lançamentos de livros, festival de canções balcânicas, discussões sobre: “A história do Movimento Anarquista Búlgaro”, “Nestor Makhno”, “Bálcãs nacionalistas aos Bálcãs de solidariedade”, entre outros temas. O evento contará com a participação do conhecido historiador anarquista sérvio Andrej Grubačić. Mais infos: http://www.balkanbookfair.org/
[EUA]
Nos dias 21, 22, 23 e 24 de maio, em San Francisco, na Califórnia, acontece o "Festival e Convergência" em comemoração ao 29º aniversário do Food Not Bombs (Comidas Sim, Bombas Não), com uma série de eventos ao ar livre e num anfiteatro, com uma programação muito boa em torno de debates, mostra de filmes, exposições, performances com palhaços e dançarinos, concertos, jogos, oficinas, atividades e espaços para crianças. Tudo numa área de 317 hectares, com árvores, trilhas... no meio da natureza! Mais infos: http://www.soupstock.org/
Da Lua Nova à Lua Cheia, de 24 de maio a 6 de junho, acontece no Sul do Colorado, na Floresta Nacional, num ambiente selvagem, o "Acampamento Anti-civilização e Primitivista", chamado de "Feral Futures", que estará "centrado" em diversos workshops, estratégias e táticas anti-civilização e primitivistas, entre outras atividades de conexão com a natureza. Mais infos: www.myspace.com/feralfutures
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

x Straight Edge é Politica x

Já faz um tempo que venho pensando sobre esse assunto e em tudo que envolve o Straight Edge e suas evoluções. Tenho me perguntado pra onde caminham nossas posturas e nossas decisões . O SxE nasceu como postura de rompimento dentro do atual estado das coisas, é como se o punk fosse um bêbado com um "a" de anarquia tatuado no braço e uma garrafa de pinga, vestindo uma camisa do dead kennedys voltando pra casa e o SxE fosse o amigo que vem pra ajudá-lo a chegar em casa e dar alguns conselhos.

Talvez essa seja a imagem do SxE positivo que tanta gente fala, o punk que viu que era possível fazer as coisas sem ter que se fuder e aceitar tudo aquilo que lhe fizeram acreditar como única saída. Pra mim, a negação a tudo isso faz o SxE ser político.

Uma coisa que é importante dizer é que o SxE não pode nunca se fechar para o mundo, ele tem sim esse caráter de mudança social, ou seja, tem que estar em constante evolução. SxE é idéia, e idéias precisam ser questionadas pra poderem evoluir! É dever nosso a auto-crítica, isso fortalece a idéia. Fazemos parte de um meio em que tudo deve ser posto em cheque, aceitar as coisas assim facilmente é no mínimo incoerência, devemos ver o que há por trás de tudo inclusive de nós mesmo.

As brigas de punk VS pride, ateus VS cristão, pro-choice VS pro-life são coisas a se pensar, talvez um pouco mais de respeito por parte dos dois lados seja o ideal. Não falo pra sermos todos amigos de infância, mas sim o mínimo de tolerância com a outra parte e que fique bem claro que este texto não tem a intenção de atacar ninguém, apenas estou falando das coisas que eu acredito, acho que todos têm esse direito. Quem sabe assim não conseguimos um dia viver como na capa daquele split do BETERCORE com o BOYCOT aonde tem um punk dando a mão pra um SxE youth crew, nossa convivência é inevitável, direto nos esbarramos na rua e fica difícil sair na porrada toda vez que isso acontece e creio que ninguém quer guerra a vida toda, pelo menos eu não quero.

No começo o SxE era vinculado com a negação de várias coisas e hoje muita gente já acha que ele é um movimento próprio que foi adaptado pelo sistema pra gerar lucro. Pelo contrário, SxE é a contra mão disso, então por isso me entristece ver alguém com um "x" na mão e um Nike no pé. É o tipo de coisa que é inconcebível pra mim, fico pensando se o cara realmente sabe os males que esse tipo de futilidade acarreta para a vida de outras pessoas, é como se a única coisa que importasse fosse o seu próprio bem estar.

SxE também tem a ver com solidariedade, mesmo sendo uma idéia pessoal ele atinge a vida de outras pessoas direta ou indiretamente, só pra dar alguns exemplos: com certeza sua família prefere você livre de drogas, certamente isso é um exemplo direto. O vendedor de bebidas/drogas que vai deixar de lucrar é um exemplo indireto. Citei isso pra mostrar como é ingenuidade achar que SxE é algo que só afeta a você mesmo. Só pra se ter uma idéia dos males que a indústria e o capital trazem a nossas vidas, vou falar um pouco das Multinacionais. A coca-cola, por exemplo, causa todos os anos um enorme desequilíbrio ambiental causado pela imensa quantidade de água desperdiçada por suas fábricas engarrafadoras na sua produção, sem contar nas pessoas que são mortas com a conivência da empresa por apresentarem algum tipo de risco ao segredo do refrigerante ou água negra do capital. Você sabia que a nike explora milhões de pessoas miseráveis nos países onde a situação econômica é mais critica, onde podem fazer seus operários trabalharem 12 horas por dia ganhando menos de 30 centavos por dia? A nike tem fábricas ao redor do mundo, especialmente em países de terceiro mundo, onde as leis são escassas e onde os direitos humanos não são respeitados. As fábricas empregam trabalhadores menores de idade, crianças de 12 e13 anos trabalhando em turnos de 12 horas em condições tão horríveis que seria difícil achar algo parecido em nosso país. Eles lucram milhões com o sofrimento de pessoas e vendem a imagem de que é super legal ter um nike no pé. Isso é no mínimo algo a se pensar, não acham?

Esses foram apenas dois exemplos, podemos ver isso todos os dias até nas ações mais pequenas como comprar um jornal pra ler e tomar café da manhã com a família, basta prestar mais atenção e não sermos tão arrogantes diante das coisas.

O capital desperta o que há de pior no ser humano!

A retomada da identidade política no Straight Edge é algo que devemos buscar. Chega de pose e apatia, devemos sim nos preocupar com outras coisas. Ao invés de moshar e manter o visual, desassociar o SxE da política é o mesmo que ser vegano unicamente por questão de saúde, nem preciso mais dizer o quanto o SxE pode ir além dessas coisas fúteis, acho que todos sabemos aonde ele pode chegar mesmo estando em constante evolução assim com as pessoas. Não quero aqui também ser o dono da verdade, mesmo porque não acredito em verdade absoluta, quero mais é que me façam refletir sobre minhas próprias convicções e se eu achar necessário mudar de postura, o farei. Essa sim será uma atitude coerente com tudo que prezo, nem a vaidade e nem o ego irão me cegar.

É necessário ler mais e dialogar mais sobre as nossas duvidas e certezas, sair as ruas e ver como a vida é de verdade e não achar que o SxE/Hardcore é um outro mundo. Estamos inseridos neste contexto chamado sociedade e é nele que devemos atuar, como diz o NO VIOLENCE: “em todas as frentes temos que lutar, há um novo dia por vir”.

Temos um potencial imenso, mas precisa ser posto em prática, se não de nada vale tudo o que sabemos. Só a organização aliada a ação é que fazem a diferença, mas pra isso é preciso querer essa mudança e se sentir incomodado com o atual cenário das coisas e é isso que eu sinto falta hoje em dia, parece que já conquistamos tudo e nada mais precisa ser feito. Não, eu não penso assim, temos uma porção de batalhas pela frente e acho que o SxE pode ser UMA das maneiras de lutarmos contra tudo aquilo que nos tira o direito de ser quem queremos ser.

Bem, já falei demais é hora de deixar as pessoas pensarem sobre tudo o que disse mas que fique bem claro: Straight Edge é política, Straight Edge é revolução .


Por favor se você leu tudo isso e achou uma grande merda, se expresse e mostre seus pontos de vista! Sentirei prazer em discutir de forma respeitosa e amigável com quem quer que seja .
NÃO JOGUE ESTE MATERIAL NO LIXO. Não gostou? Passe adiante, gostou?leia e passe pra frente, não monopolize a informação talvez tenha alguma serventia para outra pessoa
.

ESTE TEXTO SERÁ PUBLICADO COMO PARTE DO FANZINE IMPRESSO JUVENTUDE INCONFORMADA


Estou pouco me importando para os possíveis erros gramaticais!

XlazaroX

E-mail para contato: kaosedanos@hotmail.com