terça-feira, 9 de novembro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

[EUA] Unabomber lança seu primeiro livro: "Escravidão Tecnológica"














De trás das grades, antigo acadêmico expõe a filosofia Ludista de sua campanha anti-tecnológica


Seu último trabalho publicado foi um “manifesto” de 35.000 palavras que explicava os motivos por trás de sua campanha terrorista que durou 17 anos, tornando-o a pessoa mais procurada nos Estados Unidos. Hoje em dia, não mais perturbado pelo fato de seu manifesto o ter levado à sua identificação, detenção e prisão perpétua, Theodore Kaczynski decidiu lançar seu primeiro livro.

Compilado basicamente em sua cela da prisão de segurança-máxima em Florence, Colorado, a brochura Technological Slavery (Escravidão Tecnológica) explica mais profundamente a filosofia por trás das tentativas de Kaczynski de destruir a civilização Ocidental através de uma permanente série de ataques com bombas. O texto estranhamente coerente foi co-autorado com David Skrbina, um professor da Universidade de Michigan que durante muitos anos deu aulas sobre o manifesto do Unabomber como parte de um curso universitário sobre filosofia da tecnologia.

O livro contém uma coleção de ensaios e correspondências com acadêmicos com os quais Kaczynski expandiu suas crenças que inspiraram sua campanha: nomeadamente aquela, para citar uma passagem, que diz que “a revolução industrial e suas conseqüências tem sido um desastre à raça humana e que os avanços tecnológicos estão destruindo o planeta e corroendo as liberdades humanas”.

Dr. Skrbina disse que longe de ser o delírio paranóico de um homem louco, o livro é meticulosamente elaborado. “Nele são traçados argumentos lógicos, claros e sólidos”, disse. “Eu não conheci o homem pessoalmente – todos os nossos contatos foram feitos através de cartas – mas em nossos procedimentos não houve nenhum sinal de doença mental. Ele é lúcido, racional e calmo”.

Esta é uma conclusão diferente daquela em que chegou os psiquiatras da corte de justiça que avaliaram Kaczynski após o FBI o ter detido em uma remota cabana na cidade de Montana no ano de 1996. Decidiram que ele era um esquizofrênico paranóico, mas que estava suficientemente apto a suportar um processo por assassinato.

A violenta campanha de Kaczynsky, na qual três pessoas foram mortas e mais de 20 feridas, começou em 1978. Antigo acadêmico e expert em matemática, ele estava aparentemente irritado pela contínua destruição do mundo natural ao redor de sua casa e começou a enviar bombas improvisadas para pessoas de companhias de aviação, professores universitários e donos de lojas de computadores. (O apelido “Unabomber” vem de “University and Airline Bomber”, nome do caso registrado no FBI).

Na medida em que a campanha progredia, e os dispositivos se tornavam mais efetivos – e mortais – Kaczynski começou a ter como alvos aqueles profissionais que ele julgava serem responsáveis pela destruição do mundo natural. Suas duas últimas vítimas, ambos assassinados, foram Thomas Mosser, que fazia anúncios para a Exxon, e Gilbert Murray, um lobista que trabalhava para a indústria madeireira.

Os ataques terminaram em 1995, quando o manifesto de Kaczynski foi publicado pelo New York Times e o Washington Post. Ele entrou em contato com investigadores, através de cartas anônimas, prometendo parar com os ataques se o documento fosse impresso.

A publicação do manifesto levou à detenção de Unabomber: seu estilo de escrita foi reconhecido por seu irmão David, que prontamente contatou o FBI. Como parte de um acordo judicial, Kaczynski foi dispensado da pena de morte, mas foi sentenciado à prisão perpétua sem liberdade condicional.

Uma versão atualizada do manifesto está inclusa no Escravidão Tecnológica. De acordo com Dr Skrbina, isto fornece um insight à natureza dos códigos éticos que os terroristas usam para justificar suas campanhas.

“Tento separar seus crimes de seus argumentos acadêmicos”, disse Dr Skrbina. “Estou interessado em filosofia. Agora, certamente não apóio os assassinatos que ele cometeu, mas se você está estudando ética então é importante perceber que há muitos casos em que um indivíduo pode dizer, sim, há uma base eticamente justificada para matar”.

“Os governos estão, de fato, argumentando que o assassinato é justificável sempre que começam uma guerra. Em ambos, no manifesto e em suas cartas escritas para mim, que também estão impressas no livro, Kaczynski está, de fato, fazendo a mesma coisa”.

Fonte: The Independent

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ecotragedia cont...


Tragédias são momentos únicos (passageiros, por assim dizer, repentinos) por isso esse nome, por isso ganham espaço na mídia, por isso tanta audiência na TV.

O problema é que são oportunidades únicas... das pessoas ajudarem umas as outras, do Estado tomar medidas... do Capital lucrar ainda mais.

Preços de itens de primeira necessidade estão até 20x mais caros nas regiões mais atingidas. Depois reclamam dos saques !!!

Mas já dizia o SLOGAM:

"Copa do Mundo... o MUNDO TODO PARA!"

sábado, 5 de junho de 2010

Cartão de Visitas




"Hei, o seu coração é um músculo do tamanho de um punho.

...mas a ditadura autoritária do ódio - continua a fazer tantas vitimas sexuais, que tudo que eu posso fazer por nós dois é me libertar.

…É, será que eu posso só te dar - meu cartão de visita?!

…É que o amor ao mesmo tempo que nutre, deixa-nos fracos, agonizantes e cansados. É que o amor é um movimento de dar e receber num caminho de duas vias, um movimento de contração e dilatação, fluxo e refluxo.

O grande problema entre os amantes é quando há discrepância entre um movimento e outro. Se dou demais e não recebo, torno-me seco, triste e me canso. Se recebo demais e não dou nada, me torno um filho-da-puta inchado e egoísta. E no final de contas os amantes sempre apontam o dedo na cara uns dos outros, exigindo igualdade entre aquilo que dão e aquilo que querem receber.

Eu não quero saber de nada disso.
Eu quero todas as vias possíveis.

Me doar sem esperar que ninguém me responda da mesma forma, receber sem que ninguém exija de mim uma reação com a mesma força da sua ação. Eu quero é enfiar a cabeça e confundir aquilo que eu faço com aquilo que me é feito, sem distinção. Eu quero é amor e afirmação, e não o ego que espera pra poder agir. Se ninguém me escreve, eu cá estou me afirmando e me derramando ainda que outras pessoas estejam dormindo, ou trepando, ou na estação de metrô com a cabeça na lua.

Pra mim bastam as aberturas: o conteúdo e a forma de amar é a gente que determina. Eu quero é a paixão que me permite o extravasamento da mesma forma que o recolhimento, sem que isso signifique uma diferença na intensidade.

Eu quero é poder me calar e explorar outras formas além do verbo sem que isso signifique falta de diálogo. Eu quero é poder tirar a roupa e pisar em cima de raiva e desespero, sem me envergonhar da minha insensatez e insanidade. Eu quero é jogar na fogueira toda norma, toda teoria estéril e viver aos braços alheios. Jogado! A máxima consciência do outro, sair de mim e pairar leve no espaço que comporta todos os meus amores, eu que me apaixono todos os dias, pelos mesmos, pelos outros.

Não exigir nada de ninguém. Quero é comer as vírgulas e escrever e falar como as coisas me aparecem sem filtro sem máscaras sem medo. Se digo,”serei fiel a você”, estou demarcando um espaço silencioso além do alcance de outros desejos. Porque ninguém pode legislar o amor, ele não pode receber ordens ou ser intimado para o serviço.

O amor pertence a si mesmo, surdo a suplícios e imóvel à violência. E não algo que você possa negociar. É que o amor deveria ser uma carta de alforria ao invés de mais um contrato que nos costura exclusivamente ao outro e ao mundo do outro. Estamos amarrados um ao outro numa linha que criamos e não numa linha gasta e falida que a convenção nos concedeu, e isso é tão maior, porque além de amar a pessoa amada, amo também o amor. De que adianta amar um outro, se odeio, se detesto a forma com que o nosso amor é conduzido e enquadrado?

Quero viver dias onde eu me sinta tão pleno e tão completo eternizando dentro da minha cabeça todos os instantes, todos os ângulos que meus amores e a minha visão me permitirem. E que cada noite, ainda que mortos de sono ou de tesão, ainda que em movimentos bruscos ou na calmaria dos corpos e mentes já cansados, cada noite dessas eu me derreta pra depois me recolher maior, mais vivo e mais forte, mesmo sem demonstrar, mesmo sem ser percebido.

E saindo de casa com as olheiras fundas e um sorriso incontrolável no rosto. Na minha cabeça as velhinhas na rua com seus poodles e os comerciantes abrindo suas lojas se sentirão agredidos pelo meu transbordante sentimento cheirando e irradiando a violência que acompanha toda paixão. Violência no sentido mais elementar do termo, de não sair ileso, de estar pra sempre marcado, de ter sido fortemente violado. Ir andando com o sangue correndo apressado pelas minhas veias, meu coração se contraindo e dilatando numa velocidade nova e imensa. Daí as vontades de dar voltas correndo pelo quarteirão, igualar a velocidade do meu corpo com a
velocidade que corre aqui dentro de mim. O que vai ser agora?

Eu não sou daqueles que tem respostas prontas, tão objetivas assim, mas procuro uma intensidade que só é suprida quando puder pensar sem medo que “mañana es otro día”, sem todo aquele peso de responsabilidade esmagando nossas cabeças e nossas possibilidades. Ainda temos tanto… sinto que existem incontáveis potências a serem convertidas em atos, e a chama que eu tanto preciso pra me manter aquecido até que alcance o desejado estado de fervura. O estado radical da fervura, que se estende à todas as esferas da vida, desde a violência de uma mordida no pescoço, até o ódio ativo e construtivo à esse mundo insano e arruinado.

É que me sinto vivo de verdade quando posso desejar sem limites.
E sentir-se vivo de verdade é o passo crucial ainda que não se saiba o caminho…

A partir daqui e até o infinito possível..."



Coletivo Você Tem Que Desistir

http://vocetemquedesistir.noblogs.org/

quinta-feira, 6 de maio de 2010

[Grécia] “Para todas as pessoas que usam a morte de três seres humanos para dar vazão aos seus discursos de ódio contra anarquistas”



Acabei de ouvir sobre os terríveis eventos e estou chocado. Eu acho que é muito bom que o [Blog] After the Greek Riots honre os três mortos e publique a retratação.

Para todas as pessoas, especialmente aquelas que comentam aqui, que usam a morte de três seres humanos para dar vazão aos seus discursos de ódio contra anarquistas, perguntem a si mesmas o seguinte: você já reagiu dessa maneira quando algum imigrante é espancado ou/e até mesmo assassinado pela polícia de Atenas? Você já reagiu assim quando outra dezena ou centena de civis morrem no Iraque, ou Afeganistão ou em qualquer outro lugar desse mundo? Você posta comentários cheios de ódio nas páginas da mídia oficial, pelas dezenas de centenas de pessoas que são mortas por um sistema de poder global econômico irracional em uma contagem diária?

Não? Então talvez você devesse calar a boca e começar a pensar... A não ser que realmente aprove o estado que o mundo se encontra, pois isso lhe proporciona uma TV colorida, um carro, casa própria e bananas baratas. E tudo isso somente pelo preço de ter que olhar para todos os seres humanos como competidores e ameaças em potencial!

Para todos os anarquistas e camaradas de esquerda radicais:

Enquanto não sabemos quem atirou o molotov, devemos definitivamente lutar contra a campanha midiática e política que aponta o dedo ao povo que luta contra sua miséria, devemos também ser bravos o suficiente para admitir que possivelmente foi "um de nós".

Todos os que estão envolvidos em lutas militantes de massa sabem que sempre há a possibilidade de uma tragédia como essa acontecer. Desde que não somos um partido nem qualquer tipo de instituição - e uma revolta popular nunca vai ser - não podemos nunca controlar totalmente a situação. Qualquer um pode causar esse tipo de dano com uma demonstração violenta: agentes de polícia provocadores, fascistas, hooligans, cidadão raivosos ou anarquistas de cabeça quente.

Mesmo que isso tenha sido feito por agentes do Estado ou das classes de cima, nós como anarquistas propiciamos o meio necessário! Não vamos negar isso. Exatamente porque aprendemos enquanto lutamos, exatamente por não querermos ser como um partido, como o Estado e as classes dominantes, como os fascistas, temos que ser honestos, humanos, autocríticos e ainda assim determinados.

Então, é tempo de pensar no que podemos fazer para minimizar o risco e prevenir os danos e até, como agora tragicamente aconteceu, a morte de pessoas não envolvidas.

Enquanto para mim está tudo bem em usar molotovs contra a polícia ou em ações planejadas, deve haver um consenso de não usá-los contra prédios nos quais:

a) Possam haver pessoas;

b) O fogo possa se espalhar para outros edifícios que não tem a ver, como casas residenciais. E todos sabemos que lojas com apartamentos residenciais em cima são atacadas em ações na Grécia hoje e sempre;

Atacar um banco, a loja de uma grande companhia, etc.; é sempre um ato simbólico e deve ser encarado como tal.

Usem pedras, tintas, entrem e destruam tudo se houver a possibilidade. Se usarmos fogo, não podemos controlar o desenrolar, e a mídia e os políticos ficarão felizes em poderem nos retratar como hooligans psicopatas e o simbolismo é o mesmo de qualquer maneira.

Juntar a isso o poder do fogo não vale arriscar a integridade de seres humanos.

Dito isso, toda a minha solidariedade vai aos amigos e camaradas anarquistas e de esquerda radicais na Grécia e todas as pessoas em qualquer lugar que lutam por um mundo livre do capitalismo e cheio de cooperação mútua, no qual a liberdade individual e coletiva são uma só, repletas de vida para todos, é o objetivo da sociedade!

L.

Tradução > Filipe Ferrari

agência de notícias anarquistas-ana

[Grécia] Carta de um funcionário do banco Marfin Eganatia Bank

[Das quais três trabalhadores morreram, hoje quarta-feira (05/05/2010), dois homens e uma mulher, em um incêndio numa agência em Atenas durante as manifestações contra as duras medidas de austeridade aprovadas pelo governo grego.]

Sinto-me na obrigação com os meus companheiros que morreram de maneira injusta na quarta-feira e alçar a minha voz e dizer algumas verdades. Estou enviando esta mensagem a todos os meios de comunicação. Alguém que tenha alguma consciência deve publicá-la. O resto pode continuar fazendo o jogo do governo.

O Corpo de Bombeiros nunca tinha emitido qualquer licença sobre o edifício do banco Marfin Eganatia Bank. O acordo foi feito por debaixo do pano, como acontece com praticamente todos os negócios e as empresas na Grécia.

O edifício aonde estava a agência não tem nenhum mecanismo de segurança em caso de incêndio, nem planejado ou instalado. Ou seja, nenhum sistema de dispersão ou saídas de emergência ou mangueiras. Tão só alguns extintores portáteis que, supostamente, não são suficientes para lidar com um incêndio real num edifício construído com base em normas de seguranças muito antigas.

Nenhuma agência deste banco conta sequer com um funcionário treinado na extinção de um incêndio, mesmo no uso dos poucos extintores que existem. A direção do banco também usa os altos custos de formação como uma desculpa e não toma nem as medidas mais básicas de proteção aos funcionários.

Nunca houve qualquer exercício de simulação de incêndio em todo o edifício, nem exercícios de treinamento por parte dos bombeiros, para dar instruções a seguir em caso de situações como esta. As únicas sessões de treinamento que ocorreram no banco Marfin Eganatia Bank têm a ver com situações de atos terroristas e fornecer somente o meio de escapar pelo "peixe grande" do banco.

O edifício em questão não tem nenhum caso recente de incêndio idêntico, embora a sua construção seja muito sensível em tais circunstâncias, e está cheia de materiais altamente inflamáveis do chão ao teto, como papel, plásticos, fios e móveis. O edifício é objetivamente impróprio para o uso como um banco, dada as características da sua construção.

Nenhum membro da segurança do banco tem qualquer conhecimento de primeiros socorros e combate a incêndios, apesar de serem responsáveis pela segurança do edifício. Os funcionários do banco têm de se converter em bombeiros ou pessoal de segurança, de acordo com o apetite do Sr. Vgenopoulos [proprietário do banco Marfin Eganatia Bank].

A gerência do banco proibiu taxativamente que seus funcionários abandonassem o local de trabalho hoje - apesar de eles terem pedido desde as primeiras horas da manhã -, obrigou os funcionários a fechar as portas e reiterou que o prédio teria que ser fechado durante todo o dia, tudo por telefone. Eles também bloquearam o acesso à internet para evitar que os trabalhadores se comunicassem com o exterior.

Durante muitos dias eles aterrorizaram os funcionários do banco em relação com as manifestações destes últimos dias, com a seguinte "oferta": ou trabalha, ou te demitimos.

Os dois polícias à paisana que são enviados para a agência em questão para prevenir os roubos não compareceram nesta manhã, embora a gerência do banco tivesse prometido verbalmente a seus empregados que estariam lá.

Por último, Senhores Deputados, façam uma autocrítica e parem de fingir que estão em estado de choque. Vocês são responsáveis pelo o que aconteceu hoje, e em qualquer estado justo (como o que vocês gostam de usar de vez em quando como exemplos em seus programas de TV) seriam presos por tudo o que foi mencionado acima. Os meus companheiros perderam suas vidas hoje pela esperteza: a esperteza do banco Marfin Eganatia Bank e do Sr. Vgenopoulos em particular, que afirmou explicitamente que quem não fosse trabalhar hoje [em 5 de maio, o dia da greve geral] não deveria se preocupar em vir amanhã [uma vez que seriam demitidos].

Um funcionário do Banco Marfin

Notas:

1. No parlamento grego o Partido Comunista da Grécia (KKE), acusou o governo pelas mortes, dizendo que foi um resultado da ação de agentes provocadores dos grupos fascistas. Os argumentos do Partido Comunista se baseiam no fato de que 50 fascistas tentaram entrar na manifestação do PAME carregando bandeiras da Grécia na parte da manhã. Os fascistas foram perseguidos e se refugiaram entre as forças de segurança antidistúrbios.

2. Eles acusam a extrema-direita de estar por trás das mortes, a Coalizão de Esquerda Radical (Syrisa) declarou no parlamento que o governo não pode atormentar-se com a perda de vidas, porque tem estado atacando as vidas por todos os meios possíveis.

3. Não tomamos as ruas ou arriscamos nossa liberdade e vida enfrentando a polícia para matar pessoas. Os anarquistas não são assassinos!

agência de notícias anarquistas-ana

terça-feira, 20 de abril de 2010

[EUA] Anarquista é detido em Los Angeles durante protesto Antinazista


Comunicado da Cruz Negra Anarquista de Los Angeles:

Irmãs e irmãos,

Nosso querido amigo e companheiro Julio Rodriguez foi preso sábado (17 de abril), no centro de Los Angeles, na Califórnia, enquanto protestava contra a supremacia branca, pela Polícia de Los Angeles.

Para quem não conhece Julio, ele esteve envolvido em diversos projetos nos Estados Unidos e no México, como comunidades para um ambiente melhor do Parque Huntington, Cruz Negra Anarquista de Guadalajara, educação nas comunidades Nahuatl e, recentemente, ajudou a organizar em 10 de abril um evento para arrecadar dinheiro para Urso Branco e crianças em Chiapas. Ele está preso por acusações falsas, de “assalto com arma a um policial ou bombeiro".

Ele vai comparecer no Tribunal hoje (20 de abril); sua fiança é de 50.000 mil dólares, e atualmente se encontra encarcerado no Centro de Polícia de Los Angeles.

É fundamental que, como anarquistas, anti-imperialistas, anti-racistas e anti-fascistas apoiemos o nosso amigo atrás das linhas inimigas, assim como a sua família, oferecendo a nossa ajuda no que for possível.

Protesto: "Vão pra casa, racistas"

Aproximadamente 25 membros do Movimento Nacional Socialista (NSM), um grupo neonazista, convocaram para este sábado (17 de abril) no centro de Los Angeles um protesto para repudiar os imigrantes nos Estados Unidos, cujos grupos representativos convocaram uma contramarcha.

Os neonazistas, usando uniformes negros e bandeiras com a cruz suástica, foi amplamente superado por cerca de 500 manifestantes que gritavam "Vão pra casa, racistas".

Antes de começar a passeata nazista, que foi protegida pela polícia, um grupo da contramanifestação convocada por ativistas das comunidades latinas, negras, anarquistas e também homossexuais se aproximou da sede da prefeitura de Los Angeles e atacaram um racista com tatuagens nazistas. Um segundo homem também foi agredido pelos manifestantes antinazistas. Ambos saíram com ferimentos leves.

Embora prevista para juntar centenas de nazis, apenas cerca de 25 nazistóides apareceram para seu acontecimento. Pouco depois de uma hora, os nazis concluíram o evento e foram escoltados pela polícia às pressas de volta para seus carros, sem antes receberem uma chuva de pedras, garrafas e ovos.

O NSM já realizou vários protestos no sul da Califórnia para protestar contra a presença de imigrantes nos Estados Unidos.

Fotos dos nazis, do protesto, dos ataques antinazistas:


http://la.indymedia.org/news/2010/04/237278.php

http://la.indymedia.org/news/2010/04/237236.php

http://la.indymedia.org/news/2010/04/237211.php

http://la.indymedia.org/news/2010/04/237200.php

http://la.indymedia.org/news/2010/04/237384.php

agência de notícias anarquistas-ana

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Praia De Vômito - "Cético, Séptico... Distópico...!"



















Toda vez que escuto este álbum sempre penso na sala 101 (sala de tortura) do livro ’’1984'’ de George Orwell. Por que? Por causa do clima sombrio, dos gritos, e do barulho ensurdecedor... O Praia de Vômito é uma banda de Itapecerica da serra e eles fazem algo parecido com o som barulhento do Brigada do Ódio só que Grindcore, como das bandas Sore Throat, Fear of God, Patareni... Suas letras abordam bastante a questão existencial e social do ser humano:

"Se a terra for somente mais uma benção, até o Palácio de seu Deus será tomado de Assalto!".


download do álbum: http://www.mediafire.com/?wl2vtenm0wz

para ouvi-los: www.myspace.com/praiadevomito

conhecer suas idéias: http://www.praiadevomito.blogspot.com/

quarta-feira, 3 de março de 2010

Algumas Ações Diretas Mundo Afora Pela Libertação Animal Em Janeiro De 2010.


Dia 1. Itália: Ataque incendiário ao restaurante Roadhouse Grill (pertencente ao grupo Cremonini), em Reggio Emilia. Foram 8 litros de gasolina e 5 bombas de gás na instalação elétrica e na cozinha. Ação dedicada a Nicu, Robbi, Andrea e a Brigada Garibaldi Antifascista, e reivindicada pela ELF (Frente de Libertação da Terra).

Dia 1. Reino Unido: 100 galinhas liberadas de um sistema de baterias de gaiolas na passagem do ano.

Dia 1. Croácia: No centro de Zagreb, vitrines de três lojas de casaco de pele foram pichadas com a palavra “Assassinos”. É a primeira vez que lojas de casaco de peles são pichadas na Croácia.

Dia 2. França: Em Paris paralelepípedos foram lançados contra a vitrine de uma peleteria, os muros foram pichados e as fechaduras travadas.

Dia 5. Alemanha: Incendiado o carro do vice-presidente da Fortress (empresa que financia o laboratório de experimentação animal HLS, um dos maiores do mundo), em Kettwig.

Dia 5. Itália: Em Cermenate três cabras são libertadas. “Foi uma agonia separar os três filhos de suas mães, mas teria sido pior deixá-los chegar a um final horrível”.

Dia 6. Itália: Um centro de caça de codornas foi atacado em Vedocchio (Milão). O mesmo centro foi atacado no verão. As janelas foram quebradas e duas garrafas cheias de tinta vermelha foram jogadas no interior do local.

Dia 10. Itália: Quebram os vidros, furam os pneus e picham um caminhão de carne e um furgão utilizado para transportar leite e queijo em Roma.

Dia 13. Suécia: Em Lund, loja de casaco de peles (Scandinavian Sportsman) teve seus vidros quebrados e seu muro pichado.

Dia 14. Chile: As janelas do restaurante “Parrilladas Argentinas” são quebradas, a fachada é pichada e manchada com bombas de tinta vermelha. No caminho uma imobiliária teve também suas janelas quebradas. “Com estes atos saudamos os companheiros Abraham López e Fermín Gómez, enjaulados pelo Estado mexicano, e a Matías Castro, enjaulado pelo Estado chileno. Força companheiros, daqui nos irmanamos com suas idéias e prática, multiplicando as ações. FLA/FLT (Frente de Libertação Animal/Frente de Libertação da Terra)”.

Dia 16. México: Abraham López Martínez, de 16 anos, entra como preso preventivo em um centro de menores a espera de um juízo. Ele é acusado de danos e associação criminal, relacionados com o incêndio de nove carros e um ataque com bomba a uma concessionária da Harley Davidson, reivindicados pela FLT (Frente de Libertação da Terra). Você pode mandar uma mensagem para o Abraham através da Cruz Negra Anarquista do México: cna.mex@gmail.com

Dia 17. Itália: Liberado um cachorro de um criadouro, em Lodi.

Dia 17. México: Coca-Cola atacada pela FLA/FLT (Frente de Libertação Animal/Frente de Libertação da Terra). “Desta vez colocamos duas cargas de dinamites nas janelas dianteiras das oficinas de troca e compra-e-venda da engarrafadora Femsa, propriedade da asquerosa multinacional Coca-Cola, as quais ficaram completamente destruídas pela explosão. O atentado foi feito no município de Ecatepec no Estado do México”. (...) “Esta ação foi dedicada, com todas nossas ânsias de liberdade, aos presos Víctor, Emmanuel, Abraham, Fermín e Socorro de Tijuana. Que a solidariedade direta se multiplique em cada ação clandestina, por sua liberação incondicional. FLA/FLT”.

Dia 18. Uruguai: 8 pombas liberadas de um mini-zoológico localizado no balneário turístico.

Dia 18. Reino Unido: Lewis Pogson é sentenciado a três anos de prisão por ser declarado culpado da libertação de 129 coelhos da granja Highgate, em janeiro de 2008. Você pode escrever para ele no seguinte endereço:

Lewis Pogson #A6454AK

HMP Lincoln

106 Greetwell Road

Lincoln LN2 4BD

Reino Unido


Dia 18. Irlanda: Um KFC é atacado. Dois tijolos foram lançados contra as janelas e as portas foram quebradas aos chutes.

Dia 20. Itália: Bombas de fumaça numa loja da Max Mara, em Nápoles. Estilhaçam os vidros e lançam bombas de fumaça que estragam o material da loja. Deixam uma nota explicando os motivos da ação. Na mesma noite atacam outra loja da mesma forma e incendeiam dois caixas automáticos.

Dia 22. Uruguai: liberam 22 papagaios comuns de um criador de aves. Não restou nem um nas jaulas.

Dia indeterminado. Espanha: Em plena época de Natal, o diário El País recebia uma chamada anônima. Nela se informava sobre a contaminação (com água sanitária e pequenos pedaços de vidro) e a disposição de várias garrafas do produto “Head and Shoulders” da companhia Protect e Gambler em vários supermercados e grandes armazéns da comunidade de Madri. Na chamada, se insistiu que sabotagens como esta continuariam sendo realizadas enquanto a companhia não abandonasse as experiências em animais.

Dia indeterminado. Estados Unidos: Atacam com bombas de ácido os vidros de um McDonalds, em Utah.

Dia indeterminado. Itália: Vidros do carro de um caçador foram quebrados enquanto este estava caçando, em Tivoli.

Dia indeterminado. Estados Unidos: Travada as fechaduras de uma firma de carruagens de cavalos, em Salt Lake City.

Dia indeterminado. México: Destroçam os vidros de uma loja de “venda de filhotes”, em Guadalajara.

Fonte: Bite Back

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Entrevista - Trancarua

O coletivo pequena ameaça entrevista a banda Trancarua - os velhos Anarco-Punx do extremo leste de São Paulo. A banda é Hildebrando (voz); Edson (bateria); Fernando (voz bonita e baixo); Daniel (guitarra) e Fabio (guitarra).

pequena ameaça - Gostaríamos que vocês explicassem o que é o Trancarua.

Hildebrando - A gente acabou pegando esse nome por uma questão ética, musical, cultural em relação ao brasil, a essa mistura de culturas populares... a questão da afrodescendência... A gente achou interessante colocar porque dá também aquela idéia de trancar a rua, fechar a rua e é o que falta as vezes em alguns momentos. Só o PCC conseguiu fazer isso, infelizmente. Mas a gente acabou achando esse nome, discutindo esse nome... eu, o Fabio véio loco e o Edson...

Fabio
- Na verdade, o princípio do nome, a idéia de início foi exatamente esta, de que o nome tivesse uma sonoridade forte, já que o som da banda não é tão forte, pelo menos o nome teria que ser um pouco forte (risos). A idéia inicial foi esta, de um nome que tivesse um significado de protesto, de trancar a rua e essas coisas todas. Lógico que essa ligação com questões africanas, religiosas - a religiosidade africana e cultural - veio na sequência e ia ficar até um pouco difícil se desligar disso por causa do nome - trancar a rua, o exú e tal. Mas a essência do nome é exatamente essa, tanto que é até escrito tudo junto, trancarua. Porque se escrever separado já muda um pouco o contexto que é o exú. Nós todos somos ateus, então não ia ter nem o porquê de colocar um nome que estivesse ligado a alguma religiosidade de qualquer cultura. Mas foi uma certa inerência, tem uma certa inerência essa história de áfrica, de religiosidade cultural... já que essa coisa veio junto, a gente reforça também essa questão de racismo, de respeito a culturas diferentes, mas a essência real do nome é a ligação com barricadas, com protestos e essas histórias todas...
pequena ameaça - Vocês tem alguma demo lançada, algum cd, alguma coisa...

Fabio - A gente tem duas... tem uma que está com a formação original, a melhor de todas... (risos)

Fernando - é, a melhor...

Fabio - então, tem uma demo que a gente gravou em 2005 em Mogi, com um vocalista só que erao Hildebrando, depois entrou o Josino ficando com dois vocais, Leandro no baixo, eu na guitarra e o Edson na bateria. No ano passado, 2008, a
gente gravou outra demo com Daniel no baixo. E agora tem outra formação com duas guitarras, a gente resolveu colocar duas guitarras para suprir a minha deficiência "guitarrística", chamando o Daniel pra tocar guitarra e o Fernado no baixo pra ver se melhorava um pouco. Parece que ficou melhor, eu gostei...

Hildebrando - Os caras (Fernando e Daniel) gostaram, porque é uma oportunidade deles aparecerem : "porra a banda de vocês é foda, vocês são maiores intelectuais, a gente pode andar com vocês?" (risos). A banda tem um físico, um historiador, um artista plástico, e o Fabio é alto de data, o que é mais importante... não precisa entrar numa universidade.

Fabio - Marginal...

Hildebrando - ...é, marginal... seja marginal, seja herói.

pequena ameaça - Tem uma música de vocês chamada "Romão Gomes". Expliquem quem é "Romão Gomes".

Hildebrando - Romão Gomes é um presídio onde fica os individuos que fazem a segurança do Estado. Historicamente quando você tem a formação da força pública em São Paulo você logo de cara já cria um espaço para esses individuos, para eles virem de uma forma mais organizada. Então, Romão Gomes é um presídio onde fica os individuos que matam em nome da Lei, em nome do Estado. E lá eles tem uma facilidde de viver porque é um lugar bem adequado pelo que eu tenho de informação, é um presídio bem adeaquado, eles tem acesso a um monte de coisas, tem telefone, tem internet...

Fabio - É um presidio para policial...

Hildebrando - ... saiu uma reportagem num jornal, que eu não cito aqui, que eles tem uma vida legal, bem organizadinha...

Fabio - Tem alguns que quando vencem a estadia deles lá, não querem voltar pra rua, querem continuar lá. E quando voltam pra rua continuam com a mesma paranóia, com a mesma relação de poder que é a única hora que pode se sentirem superior a alguém, continuam com o mesmo mecanismo, mesmo ciclo vicioso.

Hildebrando - Por que Romão Gomes? Porque não dá pra gente chegar e falar "fodasse a policia". Então, colocamos Romão Gomes e a música fala da violência policial que agente sofreu, que agente sofre ainda. A classe trabalhoradora de um modo geral sofre violência policial. Não há como conciliar a força policial com a liberdade e com aquilo que eles chamam de cidadania.

pequena ameaça - O que significa Punk/Hardcore pra vocês? Essa contracultura ainda representa algum perigo à ordem dominante? Falem um pouco sobre isso!


Hildebrando - A ordem dominante ela permeia tudo hoje até o meio Hardcore. Na verdade, a gente começou a entrar nessa contracultura, que é a contracultura Punk, e a contracultura hoje, essa palavra virou um monte de coisa que tem fora, coisas oficiais que acabaram virando contracultura.

Edson - Contracultura é um vocabulário burguês, e é complicado você começar a usar isso porque se não você está fazendo, misturando o que os caras fazem com o que você faz. Como você está falando do cenário e falar do cenário é complicado, aliás, cenário com fundo político é complicado. Não sei se isso já existiu mas pelo menos pra gente aqui, nós sempre tivemos bandas, fomos militantes... hoje não, nós estamos ficando velhos e a vida vai tomando outros rumos... eu não vejo acontecer com quem está chegando... você conversa com a mulecada por aí eles não não tem referência nenhuma musical a única referência é o que está na mídia... só o que está na mídia mesmo...

Hildebrando - Sem falar a questão também que você vai hoje num som e você não consegue conversar com essa garotada sobre questões pontuais. Tem a letra, tem a postura, tem o visual mas - não que tenha havido antes, a gente não tem essa de olhar pra trás e "na minha época era legal" - há individuos que estão no meio Punk/Hardcore que tem uma ansia por transformação, sempre houve, individuos que estão ali pelo espaço de diversão, de socialização, de aceitação. No meio Punk/Hardcore tem muito maluco que é doidão, você pega o final dos anos 70 em São Paulo, por exemplo, o Punk era marginal, era bandido... você pega "SP Punk", pega "Punk do Subúrbio"... essas gangues que tinha no final dos anos 70 e começo dos anos 80 - e que hoje estão voltando infelizmente - e acaba virando isso. É a mesma coisa você olhar os grupos que estão se "degladiando" nos morros do Rio de Janeiro para tomar o poder. Na verdade está todo mundo na mesma merda mas cada um quer um espaço. E fazer essa alusão com o crime "organizado" é porque você tem hoje de novo essa coisa "a gente é de tal gangue, é isso e aquilo e aquilo" e depois se encontra e fica batendo um no outro e enquando isso o "Sistema" que é o real perigo pra todos está aí, continua intacto. E em vez de você combater a ordem policial, você usa aguardo policial porque vai acabar juridicialmente prejudicado pela agressão a outro punk ou a outro não sei lá o que. E a gente hoje, e o Edson falou essa coisa de ficar velho, não dá pra hoje chegar e falar somos punks. A gente é uma banda que toca um tipo de música que se encaixa no Movimento Punk. Não é "somos punks". Não dá chegar e falar "sou punk" ou "deixo de ser punk". A gente tem uma linha de reflexão que está dentro dessa cultura Punk. É muito importante a coisa que a gente tem, 20 quase 25 anos no meio disso, supriu muita coisa pra mim, para o Edson, para os meninos aqui... para o Fabio. O pessoal amadureceu muita coisa na cabeça, de ter uma perspectiva de fazer uma crítica política, de militar no sindicato e de repente dar algum apoio a algum Movimento Social, porque o Punk trouxe isso pra gente. É por isso que a gente fica meio fudido de ver uma cultura que trouxe pra gente um conhecimento, uma postura política e ver como está hoje. Você vai num evento e o cara vem perguntar se você "baixou tal música" se "aquela banda é mais pesada que essa", que "a gente é mais rápido que você". Eu acho que isso não é a discussão, tocar rápido ou não tocar rápido não vai agredir ninguém.

Edson - Eu queria colocar uma coisa no que eu falei, não que todo o cara que vai tocar guitarra tem que ser revolucionário, não é essa a questão, a questão é a seguinte: o conhecimento político é importante pra você saber o que seria importante e o que não é. O que você ouviu. O que é subversivo e o que não é. Isso é uma questão de você saber essas escolhas...



Hildebrando
- Teve uma época que tinha shows, amizades, todo mundo era aquilo era isto, e a gente participou de uma ocupação em guarulhos do MTST, na época, e esse mesmo pessoal que era todo revolucionário e tal foram "obrigado" a entrar e a sentar num banheiro improvisado com um buraco no chão. Eles se horrorizaram com aquela situação, as menininhas da PUC e da USP "ah, não sei o que na revolução..." de repente viram que tinham que cagar num buraco, ficaram olhando e falaram "ah, não vou entrar aí..." é foda né! Imagina numa situação de transformação radical da sociedade, como é que vai ser? Esse pessoal vai continuar no lugar que está. É muito fácil falar "a revolução e não sei o que", "nossa banda é isso e aquilo", e numa ação política será que a gente vai pro pau mesmo, será que a gente apóia, será que a gente realmente está afim de estar junto? Porque hoje, eu já ouvi de muitos anarquistas - principalmente dos anarquistas que estão no "alto" da PUC - que falam que o povo é traidor. Não é que o povo é traidor, o povo é o povo, nós somos o povo. Não dá para pegar uma teoria política e fazer uma leitura pós-moderna, como eles dizem, e não dar para acreditar numa transformação. Transformação significa que você vai desalojar do seu lugar, que vai beber água suja, vai ter que cagar no chão, vai ter que sentir fedor... eu não sei também se esta transformação radical virá, mas a gente tem essa perspectiva e está aí pra isso. Tem que estar pronto para se um dia tiver vamos ter que se incerir e não tem como fugir. Vamos ter que largar nossos valores, as nossas guitarras vão ser roubadas e quebradas, os nossos amplificadores alguém vai dar uma voadora nele, vão por fogo e aí acabou o Rock... acabou o Punk... acabou a "revolta"... Aí sim, é a hora da verdadeira revolta... por enquanto...

Fabio - Até porque, numa transformação social, não vamos ter pra onde correr... se não for correr pra cima... agora, o pessoal que está em outros degraus, vão para o exterior, vão pra fora, vão ser exilados... e a gente não vai ter para onde correr...

Hildebrando - Não que a gente esteja falando "nossa os caras são maior esquema ultra radical, o clube do CRUJ"(risos), não é isso, nós temos essa perspectiva de uma transformação social, se ela vier, temos que estar preparados, talvez a gente morra e não veja isso, mas a gente anseia, desde que comecei a tomar os meus conhecimentos sobre o que é a sociedade, graças ao Punk. Por isso digo que o Punk é importante, e percebi que existe uma disparidade muito grande, vamos dizer aí, entre classes, que isso é poibido usar hoje e na pós modernidade não se fala em luta de classes. Nem os anarquista falam mais em luta de classes hoje também, falam em liberdade, em todo mundo andar pelado, um dormir com o outro... é legal mas e aí? É todo mundo dormir pelado e não fazer nada?

pequena ameaça - Todo punk naturalmente é anarquista mas nem todo anarquista é punk. Vocês se consideram anarquistas?! O que é anarquia pra vocês?!


Hildebrando
- Olha, hoje rotular da forma que é rotulada é complicado. Eu sou libertário. Eu assumo essa postura porque é o que me educou pra sociedade. Por exemplo, hoje eu trabalho com jovens de situação de risco, trabalho em escola pública e enquanto professor mantenho essa postura libertária de não oprimir, de tentar trabalhar com esses meninos de uma forma mais horizontalizada. Porque a educação é também uma via de entrar na escola. É legal você ter uma posição libertária e entrar num meio autoritario. O punk e o anarquismo deram pra gente essa posibilidade de entrar no meio autoritario que é a escola e dizer aquilo que a gente pensa... de tentar fazer uma transformação, pelo menos a minha. E a educação eu vejo como militância política.

Fabio - Você disse que todo punk é naturalmente anarquista? Eu acho que não. Eu tenho certeza que não. São coisas distintas mas que andam muito bem quando estão juntas. A mesma coisa é o caso do Hardcore que necessariamente não é uma música política mas é uma coisa que caminha muito bem junto. Eu particularmente sou anarquista. Eu acho que o anarquismo hoje não dá pra ser vivido como no século passado (séc. XX) e fim do século antepassado (séc. XIX). Não dá pra ter o mesmo romantismo. Não dá pra ser francês ou italiano como no começo do século passado aqui no brasil. Mas é uma coisa que eu consigo colocar no meu dia-a-dia com muitas pessoas com quem convivo, com quem eu vivo. É um meio onde consigo até me livrar de certas paranóias que veem em consequência do sistema capitalista (risos). Então, eu sou anarquista, lógico que não romântico. Não dá pra ser romântico. A gente tem que colocar o pé no chão e assumir que o anarquismo hoje não dá pra ser com em tempos atrás.

pequena ameaça - Qual a influência de vocês? O que vocês andam ouvindo, lendo, assistindo, vivendo, fazendo...?

Fabio - Eu ouço o bom e velho rock´n roll. Música barulhenta. De uns anos pra cá comecei a ouvir e conhecer o Jazz que acho que é umas das músicas mais revolucionárias estéticamente falando. O Jazz é mais anti-música do que o próprio Hardcore, até mais podre. É só dá uma olhada na história do Jazz. O musical e o social tem mutio haver com a história do Punk, como movimento político e musical. É uma música extremamente doida.

Hildebrando - Eu ouço coisas modernas, pós-rock, eu amo Joy Division - o cara mais poeta que existiu na música (o vocalista). Antes dele teve outros mais importantes...

Fabio - ... O nosso amigo Hildebrando é esquizofrênico por isso que ele se identifica...! (risos)

Hildebrando - ...ouço o velho e bom Crust, Hardcore dos anos 80 e algumas coisa novas também... músicas alternativas, Jazz também, Portishead, Ska, ouço muito Rap também. Acho que o Rap tem uma puta força. Hoje está meio apagadinho mas ele é uma música muito foda. Dependendo do trabalho ele é uma música extremamente transformadora, hoje nem tanto mas já foi uma música que teve muito mais aceitação da juventude da periferia. Porque o Rock é outra coisa. O Rock é de classe média, se você tocar Rock na quebrada, o Hardcore, a mulecada vai achar o maior barato: "porra os caras são maior louco, gritam pra caramba, pulam pra caramba" mas o que tem mais haver com a realidade da periferia é o Rap. No começo a gente tocava muito com o pessoal do Rap. Eu acredito muito mais neles do que essa mulecada de tatuagens de mil reais...(risos)
Fabio - super colorida...(risos)

Edson - É uma rapaziada que vive o drama mesmo, estão lá embaixo em contato com toda a merda...

Hildebrando - Toma tapa da polícia toda hora, mora na quebrada mesmo. Você tem os grupos da zona sul, por exemplo, no capão redondo tem uns muleques organizados pra caramba. Põem a mão na merda mesmo, e falam "se é pra mudar, então vamos sujar a mão na merda". O Hardcore é foda, no começo ele era "laranja mecânica" total e depois virou o que virou hoje.

Fabio - Quando a classe média absorveu o Hardcore e, teve uma pergunta que você fez antes que era se o Harcore poderia fazer alguma transformação na sociedade, há um tempo atrás ele incomodou bastante hoje já não incomoda mais, já foi absorvido e no caso do Rap está sendo a mesma coisa. E a classe média e a mais alta já estão começando a absorvê-lo, neutralizando-o e pasteurizando-o. Mais uma transformação social que a juventude desenvolveu que está começando a ser neutralizada. Mas o que incomoda um pouco ainda o sistema é o Rap.

pequena ameaça - Fora o Trancarua vocês tem algum projeto?

Fabio - Eu tenho um projeto onírico e solitário de fazer um som com elementos de Jazz e Funk dos anos 70, mas eu chamo um pra fazer comigo, chamo outro e ninguém quer tocar, inclusive você eu já chamei também e me deu um perdido. Então eu continuo no meu mundo onírico e solitário.

Fernando - Eu sou multi-instrumentista, sou prostituto da cena, toco baixo, ponho meu colete pra tocar e sou bonito...(risos).

Fabio - Esses dois aí (se referindo ao Fernado e Daniel) tocam no Discrepante. Aquela banda fudida formada por três irmãos que, inclusive é uma das minhas influências. Depois que eu conheci eu "paguei um pau, essa banda é foda". Mas comecei a conviver com eles e descobri que são um bando de caga-grosso (risos).


pequena ameaça - Pra acabar, falem alguma coisa... mandem alguém tomar no cu, mandem beijo pra alguém...

Hildebrando - Valeu você por desalojar lá do seu lugar pra vir aqui. É a primeira vez que a gente faz uma entrevista (risos). Se tivesse mais oportunidades de vincular informação pra essa mulecada e colocar no mundo as idéias que pensamos de uma forma alternativa que é essa forma que talvez você busque. Hoje você não tem mais aqueles zines de papel como antigamente tinha pra caramba - tem um pouco ainda, o Fabio faz, eu faço, você também faz. E agradecer a oportunidade. Longa vida a gente, quando eu falo a gente, falo dessa cena que é real, eu não sei se é real também. Mas que continue viva e que a gente envelheça com dignidade. Valeu mesmo. Arruma um som pra gente e já era. Fica quieto! (risos).

http://www.myspace.com/trancarua
www.myspace.com/trancaruawww.myspace.com/trancarua
www.myspace.com/trancarua www.myspace.com/trancarua


Obs.:
esta entrevista foi realizada em meados de 2009 no Distúdio, itaim paulista e seu vídeo encontra-se disponível e dividido em cinco partes sem cortes no youtube com o nome de ‘‘Trancarua - entrevista’’ ou "pequena ameaça" Links:

http://www.youtube.com/watch?v=bt1R3eu7UjQ // http://www.youtube.com/watch?v=nVBxz3LJIPA // http://www.youtube.com/watch?v=HxJoaCPFs8g // http://www.youtube.com/watch?v=_uHJ9N0FY2U // http://www.youtube.com/watch?v=tzDxr0NAfdQ // .

E agradecer o chatão do Cainã por emprestar a câmera da sua mãe para realizar esta conversa.