terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Entrevista - Confronto

A seguir segue a entrevista feita depois do show no 17º FESTIVAL DE HARDCORE SÃO PAULO (mais conhecido como Verdurada - 24/01/09) com uma das maiores bandas de HC do Brasil.

Pequena Ameaça – Gostaríamos que vocês se apresentassem e falassem sobre o trabalho, o novo cd.

Felipe Chehuan – O Confronto é: Felipe Chehuan no vocal; Felipe Ribeiro na bateria; Maximiliano na guitarra e Eduardo no baixo. A gente está lançando o “Sanctuarium” que saiu em agosto (2008). A primeira prensagem já acabou praticamente. Saiu o vinil na Itália pelo selo "Refoundation" e na Rússia pelo selo "Self X True". A gente acabou de voltar duma turnê na Europa, fizemos por lá vários shows. E estamos fazendo a turnê aqui no Brasil. Já tocamos em São Paulo, Piracicaba, Belo Horizonte, Espírito Santo e estamos divulgando o disco novo agora.

Pequena Ameaça – E o novo projeto de gravação do DVD. Qual a importância de registrar esse trabalho?

Felipe Chehuan – Pra nós é realização de um sonho, como foi o vinil também. O vinil foi realmente um sonho que a gente conseguiu realizar. O DVD sem dúvida vai ser a comemoração de 10 anos de Confronto. Esse ano nós estamos fazendo 10 anos. A banda começou em 1999 e gravação do DVD vai ser aqui no Jabaquara e desde já estamos convocando geral. O DVD vai ser produzido pela gravadora "Seven Eight Life Records" e vai ter um cenário. E é isso, será o que o Confronto é. A gente vai tocar músicas de todos os discos desde o "Insurreição", "Causa Mortis", "Split" e agora o "Sanctuarium". Vai ser um resumo de tudo, um apanhado geral desses 10 anos.
Pequena Ameaça – Qual a importância da gravação do DVD, registrar imagens, fazer um trampo legal para o HARDCORE que não é um ambiente que se tem muita estrutura para essas coisas?

Felipe Chehuan – A gente está tentando aos poucos transformar isso, não que não tenha estrutura, eu acho que tem estrutura. A gente pode não ter... e eu sou até mais ousado, eu acho que a gente tem capacidade, como o Boka falou hoje, enquanto tiver saúde isso não vai acabar. O Punk, o HC, o Underground ele(s) faz(em) parte de todos nós, de tudo que a gente tem como meta. E o faça você mesmo é o prova de que é possível fazer acontecer. Prova que a gente vai fazer a gravação do DVD no galpão do Jabaquara que é um lugar que tem história com o Confronto. A gente poderia fazer em qualquer casa de show, mas a gente escolheu aqui, porque aqui tem um laço com história da banda e com toda essa galera durante todos esses anos que a gente viu chegar, viu participar da nossa vida. E a importância de imagens é ótima porque podemos expor de uma outra forma, não só o áudio mas também a imagem de ver a energia do show e tudo mais...

Pequena Ameaça – O Confronto é uma banda, que claramente a gente viu nesses 10 anos, que tocou no Brasil inteiro, na Europa inteira, que tem uma história do caralho e representa o HC aqui no Brasil e fora também como uma grande banda. Vocês são conhecidos pela postura Straight Edge e tal. Vocês acham e vêem o Straight Edge como uma militância política e uma mudança social?

Felipe Chehuan – Eu acho que o Straight Edge pode ser, da forma que eu aprendi, algo pessoal. Ele interfere sim, porque desde o momento que você faz um evento como esse, como é a própria Verdurada, que no cartaz coloca que é “proíbido fumar e beber” e você vê todo mundo se divertindo, agitando, absorvendo e compartilhando as idéias sem usar drogas já é um exemplo. A vida é feita de exemplos e atitudes, entendeu? E eu acho que por mais que seja uma postura pessoal ela acaba interferindo. A gente no decorrer desses 10 anos recebe inúmeras mensagens dizendo que a banda transformou a vida de algumas pessoas. As letras transformaram as vidas dessas pessoas e isso transformou a minha vida também porque faz parte de um coletivo, faz parte de uma troca de energia. E com certeza, eu acredito que serve como militância sim, mas eu não uso isso como imposição, jamais. O Confronto sempre foi uma banda feita para agregar e nunca para segregar. Em todos os momentos, desde o início da banda, a gente nunca pensou em fechar o elo e sempre expandir a idéias e tocar com outras bandas, com outro público. E a prova é que nos shows encontramos gente de todas as vertentes do Underground: a galera Thrash, do Metal, Straight Edge, a galera mais Crust, Punk... Na Europa é a mesma coisa e isso é muito legal.
Pequena Ameaça – Vendo as letras do Confronto percebemos que elas tem uma certa tendência libertária. Qual a posição política que vocês se enquadram?

Felipe Chehuan – A gente não levanta uma bandeira, mas a gente se enquadra em pessoas que acreditam que é possível transformar através de ações, através de exemplos. A gente acredita na liberdade. E a liberdade tem que ser conquistada, não tem que ser aguardada. A gente tem que lutar por ela. A gente não levanta a bandeira de nenhum “ismo”, mas está na cara que a gente tem uma tendência voltada para o povo. A gente está do lado da massa e isso é obvio.

Pequena Ameaça – Colocando em prática as idéias. Vocês participam de algum grupo ou organização que tentam fazer isso lá no Rio?

Felipe Chehuan – Olha, eu já participei mais ativamente na época que eu estava estudando na faculdade. Eu fiz parte de grupo de libertação animal como a própria "SUIPA"*. No momento agora de 2009 a gente está muito atarefado com o Confronto. Estamos usando mesmo mais a banda como nossa plataforma de expressão. Mas estamos o tempo inteiro apoiando as idéias de todos os grupos. E pra gente o mais importante e ver isso aqui acontecendo agora e trocar idéia com vocês é sinal que as coisas continuam porque durante um tempo atrás, recente, nós vimos que estava tudo descambando pra estética e hoje eu vejo que não. Porque quem ficou aí é quem acredita e isso é mais legal. É voltar os zines nos shows, as idéias, as palestras... Isso é importantíssimo. Quando a gente começou era assim, ficou um tempo sem isso e agora é importante voltar porque não só as bandas são importantes, mas toda a galera. E vocês vêem que o show não é feito só pela banda, mas por todos. Vocês viram como foi hoje, o que seria do show se não fosse a participação de todos. (?)

*Não sabemos se esta é a forma correta que se escreve o nome do grupo [nota dos editores].

Pequena Ameaça – Por curiosidade, você fez faculdade do quê?

Felipe Chehuan – Eu fiz direito.

Pequena Ameaça – Exerce?

Felipe Chehuan – Estou exercendo.
Pequena Ameaça – Desse tempo que vocês vêm representando o HC e como já foi dito na entrevista, ele estava descambando há um tempo atrás, vocês acham que o Confronto consegue realmente nos shows passar suas idéias? As pessoas que vão nos shows conseguem captar mesmo as idéias da banda?!

Felipe Chehuan – Olha, eu acho que todo mundo não, mas boa parte sim. Porque a prova são as mensagens de carinho que a gente recebe das pessoas nos e-mails, myspace, Orkut, na internet, cartas e nos shows. É legal ver a galera viajando, vindo de longe, de outros estados para os shows é a prova. Não todos, mas muita gente, acredito que sim...

Pequena Ameaça – Você vê um resultado então?!

Felipe Chehuan – Vejo, sempre.

Pequena Ameaça – E em questão de mudança social vocês também vêem algumas pessoas engajadas que tem uma tendência mais política?!

Felipe Chehuan – Eu vi gente que começou no Rock da forma mais errada possível, sem nenhuma perspectiva, sem nenhuma visão de futuro - e não só ouvindo Confronto, mas outras bandas no meio HC, no meio do Underground brasileiro - mudando sua idéia de mundo começando a tentar produzir coisas, começando a tentar a fazer a diferença nesse mundo que a gente vive, porque não basta só a gente fazer peso na Terra, a gente tem que tentar fazer alguma coisa aqui pra tentar mudar, como dizia a letra do POINT (OF NO RETURN) não se revoltar é ser muito idiota com toda essa situação que a gente vive hoje em dia.

Pequena Ameaça – Queríamos que vocês falassem da cena do Rio de Janeiro e depois um pouco da do Brasil. Vocês conseguem ver alguma racha, alguma briga entre os grupos que integram o HC brasileiro?

Felipe Chehuan – Acho que não. Acho que no geral a cena brasileira é muito boa. A cada dia que passa a gente vê mais pessoas envolvidas nos interiores, nas cidades mais distantes. No interior do Rio está muito bom, Volta Redonda, Petrópolis, Cabo Frio são cidades bem distantes do centro que tem uma cena incrível. E lá no centro do Rio tem uma cena que está em ascensão. Tocamos terça feira agora (20/01) no feriado em Jacarepaguá e foi incrível. Vimos neguinhos que nunca tínhamos visto antes participando e o show estava lotado. Está em ascensão mas nada se compara a São Paulo e sem dúvida São Paulo é a maior cena do Brasil e talvez uma das maiores da America latina. E tocar aqui, pra gente, é sempre muito bom. É sempre casa cheia.

Pequena Ameaça – No Rio como surgiu, quais foram as influências, como vocês começaram no HC, como vocês montaram a banda? Foi uma coisa lenta, vocês se conheciam desde pivete...?!

Felipe Chehuan – A gente é amigo a bastante tempo, a gente se conheceu no meio da cena do HC do Rio na época do REAJUSTE e ANGEL OF QUARREL. Nós nos juntamos em 1999 e montamos a banda. As influências sempre foram o Metal antigo. A gente queria fazer uma banda bem pesada com o som tipo SLAYER, SEPULTURA (velho), OBITUARY que está na cara; com uma temática HC também, sem dúvidas EARTH CRISIS, CRO-MAGS e o próprio RATOS DE PORÃO que influenciou a banda por cantar em português – o RATOS pesou bastante – desde o início a gente teve a idéia de cantar em português. A gente nem cogitou a idéia de cantar em inglês, isso foi meio que natural. As primeiras letras que a gente escreveu já foram em português.


Pequena Ameaça – Quais são as influências literárias que vocês tem para escrever as letras?

Felipe Chehuan – Eu nem vou dizer literária, as influências são abrir a porta, a janela de casa, olhar a rua, olhar o mundo que a gente vive, a realidade da Baixada que é o lugar onde a gente mora. Não precisa ler muito não. Vou te dizer é só abrir o olho, dar bom dia pra mãe e sair na rua que você vai vendo inúmeras coisas que nos influenciam a escrever.
Pequena Ameaça – Partindo daqui agora vocês vão lá ao IMPRÓPRIO ver o show da LUMPEN que é uma banda que com vocês tem uma história e conhecem os caras a um tempo. Como vocês vêem, depois de tanto tempo que começaram, o HC hoje? Ele tem a mesma vibe, a mesma energia de antes? Quais as coisas positivas e negativas de hoje comparado há um tempo atrás?

Felipe Chehuan – Por falar da LUMPEN, a gente adora os caras. Tocamos com eles no Nordeste em 2005 eu acho. Fizemos um turnê incrível em várias capitais. Temos uma história com os caras e vê-los aqui hoje, e também o Rui do NO VIOLENCE, os caras do POINT (OF NO RETURN), os caras antigos, é incrível... Os caras de santos, o "Cantifas" que é irmão e desde a primeira vez que a gente tocou em São Paulo ele vem. Mesma coisa não é, as coisas mudam, e eu acho até bom que mudem. Se fosse sempre tudo do mesmo jeito seria ruim e eu acho bom mudar mas é bom que a cada dia que passa a gente vai mudando junto também e vemos que as coisas estão mais estruturadas, os shows estão mais estruturados. Hoje os eventos já são muito mais respeitados que antes, porque antes era um pouco anônimo. A galera fazia e ninguém ficava sabendo. Hoje o cara sabe que tem, ele não pode nem aparecer, mas todo mundo sabe o que é a Verdurada, o que é HC, o que é Metalcore, Straight Edge, política dentro do HC, política dentro da música, enfim...

Pequena Ameaça – Não sabemos se vocês têm acompanhado o que está acontecendo na Grécia. Lá é um cenário que está em clima de insurreição, o pessoal está indo pra cima, está sabotando os bancos, está fazendo um monte de coisas, está tomando (ocupando) rádios em prol a luta, etc. E pegando o primeiro cd de vocês, o "Insurreição", vocês mantém as mesmas idéias?

Felipe Chehuan – Sem dúvida, o povo tem que tomar o que é nosso de direito. O sistema só não mata a gente completamente porque ele precisa do nosso trabalho. A gente não vive num regime de escravidão, mas a gente vive num regime de semi escravidão. Nós somos alimentados com um salário mínimo pra comer, sobreviver e ter força pra trabalhar no dia seguinte. E assim a gente vai servir o resto da nossa vida. E enquanto isso, se não mudarmos essa situação, vamos ser eternos escravos. Enquanto o povo não acordar e notar que a única maneira de mudar é através, não de uma reforma, mas de uma revolução pessoal e partindo para uma armada, tendo uma noção de que ele é no sistema e do ele faz parte, rápido ele acordará porque a grande massa é sempre a explorada, entendeu? É devorar os livros e cair dentro mesmo porque esse é o caminho.

Pequena Ameaça – Vocês têm alguma mensagem final pra esse dia, como é tocar na Verdurada hoje depois de tanto tempo, a galera agitando...?

Felipe Chehuan – Queria agradecer a todo mundo que colou e tocar aqui é maravilhoso, sempre foi maravilhoso. A gente tem uma história com esse lugar, são 10 anos tocando aqui. Desde que a banda surgiu a gente toca na Verdurada e sempre foi muito bem recebido e o show como foi hoje é a prova de que a gente está muito feliz e querendo voltar. Queríamos agradecer a vocês pela paciência, por ter esperado, pelos desencontros. E estamos aí para qualquer coisa e qualquer dúvida. Valeu mesmo!

Myspace da banda:

http://www.myspace.com/confronto

Fotolog:

http://www.fotolog.com/x_confronto_x


Esta entrevista foi realizada por xChristopherx, xPãox e xVitorx.

OBS.: Parte das questões da entrevista foram feitas e elaboradas por xchristopherx, xlazarox e xpãox dias antes do evento, as outras foram totalmente espontâneas com ajuda do Vitor Trust Yourself. Agradecemos ao Nerd retardado do MAUA ( BUC Videos e Isabella Superstar) por ter nos salvado emprestando a camera para gravação do audio; a Deise do Revoluta Acessoria por ter feito o contato com a banda, sem ela esta entrevista não seria possivel, valeu pela atenção e por sua "ajuda"; e ao Confronto!

Fotos postadas: retiradas de páginas pessoais de competentes fotógrafos que registraram o 17º FESTIVAL DE HARDCORE SÃO PAULO .

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