sexta-feira, 21 de agosto de 2009

[Peru] Pronunciamento libertário sobre os acontecimentos na Amazônia





















Pretendem que a gente viva uma farsa. O poder opressor (Capital, Estado etc.) não somente utiliza da violência física para nos controlar, mas também cria uma jaula invisível chamada “normalidade” para se apoderar do pensamento e das aspirações dos dominados, impedindo-os de ver a possibilidade de sua própria libertação. Quem desobedecer será sancionado socialmente como sonhador ou subversivo. Os meios de comunicação também são armas: disparam cortinas de fumaça para desviar a nossa atenção, e assim esquecemos as injustiças cotidianas. A imprensa maquia os fatos, os transforma em mercadoria, banaliza a morte. Por isso, enquanto as pessoas eram assassinadas em Bagua, rapidamente o sistema tratou, em primeiro plano, de fazer um teatro, exaltando novas glórias esportivas, com manchetes repletas de fervor patriótico: o vermelho da bandeira peruana se sobrepondo ao vermelho do sangue dos mortos no conflito ainda não resolvido na Amazônia.

O regime pretende ocultar que ainda existem centenas de desaparecidos, dezenas de presos, famílias desconsoladas, comunidades incompletas, pois, no ataque policial, muitos daqueles que fugiram ainda não voltaram. As arbitrariedades nas prisões são as coisas mais comuns. Pretendem provocar a desmoralização das pessoas para acabar com anos de luta e organização, mas, apesar da repressão, os povos amazônicos seguem dispostos a lutar.

Não, não defendemos a soberania nacional, se isto significa propriedade do Estado e domínio de sua burguesia local. Somos partidários da administração direta das comunidades, de sua capacidade de autogestão. Somos contra o desenvolvimento cego e a indústria depredadora, é o momento de formular formas radicalmente distintas de convivência, sem exploração do homem e da natureza. Não atacamos a empresa transnacional por ser estrangeira, mas sim por ser exploradora, capitalista. A luta amazônica não foi provocada pelo chavismo ou outros supostos agitadores. Estas são mentiras do governo que quer encontrar falsos culpados e negar a capacidade das comunidades de atuarem por si mesmas. Defendemos a autonomia dos povos e desejamos espaços livres de contaminação não somente no Peru, mas em todo o mundo. Este conflito não é uma guerra de “Estados imperialistas” contra suas Neo-colônias, o Capital usa qualquer bandeira (o inimigo também se veste de vermelho e branco) por isso compreendemos que, para nos liberar, é inútil falar de “pátria”.

Não se trata de manter espaços para o turismo ou de uma saudade cafona do bom selvagem. As comunidades indígenas possuem seus próprios conflitos. Não idealizamos, simplesmente somos solidários contra o inimigo comum. O poder opressor tem atacado sem dó, tem matado, continua matando e pretende que a gente olhe para outro lado para que possa prosseguir impunemente. Esta luta é a luta de todos, e se hoje são os indígenas amazônicos, amanhã pode ser qualquer um o “desaparecido”, pois o Estado e o Capital são o mundo da não-troca, da homogeneidade repressiva que cospe em nós se tivermos a ousadia de questioná-los. Para este mundo, somente existimos como objetos, como mercadoria, somos descartáveis.

Lutemos. Vamos opor a essa normalidade homogeneizante a nossa diversidade crítica. Sejamos a negação dessa farsa. Como dizem os zapatistas no México: Se neste mundo não cabemos, então outro mundo terá que ser feito.

Anarquistas em Lima

Sábado,15 de agosto de 2009.

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

Nenhum comentário:

Postar um comentário