O açúcar branco é a sacarose isolada pelo refinamento do caldo da cana-de-açúcar. Não é um alimento encontrado pronto na natureza, sendo necessário ser isolado e concentrado por processos industriais. Consequentemente, não é um alimento saudável. A natureza nos fornece alimentos completos, com nutrientes correlacionados, não substâncias isoladas. Fomos adaptados para digerir a glicose encontrada nas frutas, nos tubérculos, nos cereais, e não a superdose introduzida com o açúcar refinado. Essa alta dosagem de glicose de uma só vez desestabiliza nosso metabolismo, provocando perda de minerais como o cálcio, magnésio, dentre outros.
Sua ingestão regular pode causar diversos problemas de saúde como: osteoporose, obesidade, câncer, cárie, reumatismo e diabetes melito. A diabetes é o melhor exemplo de como uma substância criada artificialmente pode danificar para sempre nosso organismo – isso porque a função de tal composto é unicamente ser saboroso. Se quiser levar uma vida saudável, a pessoa que desenvolve diabetes deverá fazer o que todos já devíamos fazer: levar uma alimentação sem açúcar branco. O impressionante é que até 300 anos atrás ninguém usava aditivos doces nas refeições diárias. Hoje em dia, muitas pessoas diabéticas veem na abstenção do açúcar um empecilho para encontrar prazer na sua alimentação.
A divisão do trabalho permite que as atividades necessárias para a manutenção da sociedade massificada sejam divididas entre as classes sociais. A cada classe compete um determinado tipo de atividade e a cada tipo de atividade cabe uma remuneração. Quanto mais complexa a sociedade, maior a gama de atividades (e remunerações). O termo divisão social do trabalho é o mais adequado e completo, uma vez que as barreiras de classe determinam os diferentes trabalhos e remunerações – a faxineira não realiza a atividade do engenheiro, e muito menos ganha um salário próximo ao valor do salário deste. E vice-versa.
Abrigo, alimento, saúde e higiene são demandas de cada indivíduo e, logo, de toda a sociedade ao mesmo tempo. No entanto, as atividades necessárias para que disponhamos desses itens estão divididas socialmente de uma forma desigual. Ou seja, as demandas são de todos igualmente, mas o trabalho realizado para o suprimento delas não é dividido de forma igualitária. Alguns trabalham mais que outros, alguns sujam as mãos mais que outros, mas alguns – que não são estes – são mais bem remunerados.
Algumas de nossas atividades cotidianas podem ser mais prazerosas que outras. Mas o domínio da realização de todas elas é indispensável para fundamentar a autonomia individual e para a superação do estado de alienação que nos mantém reféns daqueles que detêm o monopólio do capital, das ferramentas, da terra, do conhecimento e da tecnologia que sustentam a sociedade de massas. Mesmo assim, tendemos a dar mais atenção às atividades mais prazerosas.
A divisão social do trabalho permite àqueles que possuem maiores recursos relegar a maior parte do trabalho sujo a outras pessoas que a realizam em troca de um salário ou alguma outra recompensa. Quanto maiores os recursos financeiros, maior a capacidade de relegar a outros as atividades necessárias, porém não tão prazerosas. É uma maneira de "refinar" a vida, extraindo dela apenas o suprassumo do prazer, como se o resto não existisse – exatamente como fazemos com a sacarose da cana-de-açúcar.
Essa prática é embasada em uma maneira de ver o mundo entranhada em nossos hábitos. Aprendemos que é melhor lutar por um bom emprego, um alto salário, para que possamos pagar àqueles que pertencem a uma classe social inferior para que sujem as mãos por nós enquanto desfrutamos do "melhor" que a "vida" tem para oferecer. Todos os garçons, cozinheiras, porteiros, faxineiras, vigilantes, entregadores, secretárias e motoristas sabem do que estou falando.
Não é de se estranhar que quando uma catástrofe natural ou uma guerra colocam uma grande população à mercê dela mesma da noite para o dia, sem estado e infraestruturas básicas (abrigo, alimento, saúde e higiene), ela seja acometida por diversas outras tragédias. Como vimos nos recente exemplos em Nova Orleans, no Haiti, no Iraque, grupos se organizam para saquear, a violência se torna incontrolável, doenças se espalham, pessoas morrem por falta de serviços médicos, de saneamento e de comida. Elas não apenas não estão preparadas para viver sem a administração estatal, sem hierarquias, como também não conseguem lidar sozinhas com a manutenção de suas necessidades básicas, pois as estruturas físicas e sociais da divisão do trabalho simplesmente evaporaram sem ninguém ter ensinado como obter tudo aquilo de outra maneira que não pagando para que outros cuidem disso para elas.
Catharina Disangelista
Trecho do livro "SELVAGE - Da anarquia à selvageria".
Coletivo Você Tem Que Desistir - 2010
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