sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

[EUA] Comida expropriada é distribuída em bairro da classe trabalhadora

[Comunicado do grupo “Robin Hood”, que expropriou comida e distribuiu em uma vizinhança da classe trabalhadora em Modesto, na Califórnia - fevereiro de 2009.]


Pessoas do Vale,

Em todo lugar o deserto do capital se expande – oferecemos um oásis para beber.

Nós, os Robin Hoods, nos responsabilizamos pelo provimento de uma massiva quantidade de comida grátis que foi deixada no parque do Distrito Aeroporto em Modesto, na última semana. A comida que foi deixada variava de arroz e feijão a outros gêneros de primeira necessidade, e estava disponível, livre de preços, para qualquer um que desejasse levá-la.

Para que as intenções de nossas ações se façam claras, deixamos uma faixa no local que se lia: “Resista a Recessão! – ROUBE OS RICOS!”. A comida foi expropriada de vários capitalistas – e dessa forma foi grátis (e muito fácil) de obter.

Optamos por distribuir a comida livremente porque o Distrito Aeroporto é uma das vizinhanças que mais sofrem pela iminente recessão. Nossas comunidades estão sofrendo pela falta de moradia e execução de hipotecas, pobreza, brutalidades policiais e poluição ambiental. Deixemos que este ato seja somente uma nota no grito da resistência que logo trará este sistema abaixo.

Acreditamos que a solidariedade, diferentemente, significa atacar inimigos comuns. Assim temos levado a cabo esta ação não somente para atacar os capitalistas diretamente e distribuir comida grátis para nosso/as amigo/as e vizinho/as, mas também para denunciar a Junta de Supervisores do Condado de Stanislaus, na qual, recentemente, derrotou pelo voto um necessário programa de troca de seringas que iria ajudar a parar a expansão do HIV e da Hepatite, e dar assistência direta para aqueles viciados em várias drogas. Esta decisão diretamente afeta aquele/as que residem na vizinhança do Distrito Aeroporto, na medida em que é uma área com alta quantidade de uso de heroína.

Também nos inspiramos, para realizar esta ação, no recente caso de Danny Armenta, 48 anos, morador de Turlock, que foi preso após tentar sair de uma loja com cerca de 100 dólares em mantimentos. Eles podem pegar um de nós, mas não podem pegar todos nós. Na medida em que a recessão aumenta, nossa resistência também deve explodir. Do iminente desemprego no vale, ao recente fechamento da Escola Média Teel no Condado de Stanislau devido aos cortes de verbas, se não começarmos a lutar diretamente – logo não teremos nada para lutar.

Em solidariedade com aquele/as das ruas da Grécia, China, Islândia, México, Estados Unidos e além, que estão lutando contra este monstro que chamamos de capitalismo.

Os Robin Hoods

Tradução > Marcelo Yokoi


agência de notícias anarquistas-ana

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Yu Koyo Peya

Yo Koyo Peya: uma expressão da tribo Ipili das planícies da Papua Nova Guiné significando "a Terra está acabando". O video nos dá uma idéia da crise atual que vivemos... do que é civilizição... e do seu declinio através do pico do petróleo...!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Entrevista - Lumpen

Em sua visita à São Paulo - no começo de 2009 - a banda LUMPEN (Nordeste Hardcore - Salvador Vegan Straight Edge) fez quatro shows marcantes e insanos por nossas terras e também um bate papo com o pequena ameaça falando sobre a cena Punk/HC baiana, veganismo e ações diretas... confira!

Pequena Ameaça - Nós gostaríamos que vocês se apresentassem e falassem um pouco sobre o que é a banda LUMPEN?!

Fabiano - A gente é a LUMPEN, de Salvador - Bahia. Uma banda Vegan Straight Edge que já está tocando há algum tempo, que vem de outros projetos que a gente já tinha lá em Salvador. A banda, primeiro chamava-se No Deal que era o Robson que cantava, depois ela se transformou em Sem Acordo que eu entrei pra tocar, depois entrou Joãozinho, Fofinho e depois de algumas mudanças resolvemos mudar o nome - depois de muitas mudanças de formação - resolvemos virar a LUMPEN que daí passou a assumir uma postura mais Vegan Straight Edge. É a segunda vez que estamos vindo à São Paulo.

R. Fofinho - É basicamente isso, é uma banda que não é tão nova assim, mas que surgiu de outras bandas, da antiga No Deal, de bastante tempo atrás, que só sobrou Robson Véio. E foi mudando. No início era uma banda que tinha alguns Straight Edge, algumas pessoas Anarco Punks. Foi mudando, da extinta No Deal, acabou virando "Sem Acordo" e a idéia fixa acabou virando a LUMPEN. É uma banda que é nova mas já tem um tempinho na estrada, que a galera já está há algum tempo tocando junto. Atualmente a formação são dois vocais: Robson Véio e Robson Fofinho; Fabiano Passos: patrão e guitarra; Tulio: baixo; e João Paulo: bateria.

Fabiano - E Clebson também. O nosso... (risos).

R. Fofinho - ... empresário... (risos).

R. Véio - ... cara de caixa (risos).

Pequena Ameaça - Por que vocês usam o HARDCORE para levar a mensagem de vocês?! Por que escolheram isso?! O HARDCORE não está ultrapassado, não morreu?!

R. Véio - Inclusive, essa semana conversamos muito sobre isso. Não escolhemos o HC para passar a mensagem, gostamos da música e das maioria das bandas. Pode até ser que seja verdade mas não vamos falar que escolhemos o HC para passar a mensagem. Eu acho que é um pouquinho difícil escolher o HC para passar a mensagem porque é uma música barulhenta, e depende para quem vamos querer passar também, porque se você quer passar a mensagem é muito mais fácil fazer uma palestra, de repente fazer um livro ou até tocar RAP, porque mesmo não sendo uma música agressiva é mais fácil de ouvir ou tocar uma música Pop. O HC tem uma coisa que mexe com as emoções da gente, inclusive no Release falamos que existem outras maneiras... Outras coisas que podemos participar, de outros movimentos, outras ações. Mas o que nos toca, o que emociona é o HC. Não é que escolhemos o HC: "- ah não, essa música é melhor pra isso"- mas é uma coisa que faz parte da gente e nos transformou. Pensamos, se nos transformou podemos estar utilizando este veículo para estar transformando outras pessoas. Proporciona viagem, amizade e um monte de parada e isso não faz com que nós esteja envolvidos somente com isso. Já militamos em espaços culturais, junto com pessoas de outros espaços também como o "Quilombo Cecília", participamos de ocupação com o pessoal Anarco Punk, eu sou diretor de sindicato, enfim, independente de você está tocando ou não. Eu sempre critico o lance da cena HC - eu até falei do show de ontem (23/01/09) que faz um tempão que eu não pogo e boto "xis" na mão - porque eu não sinto mais no meio da galera aquela coisa de todo mundo estar participando de algo em comum. E geralmente é música, o pessoal vai lá paga e assiste uma música. Eu gosto de música também, vou para shows de outros estilos de música, mas o HC pra mim, sempre foi uma comunidade e achei que estava perdendo. Hoje estou muito alegre porque tem muito mais negros do que da outra vez que vim pra cá, um lugar que só tinha gente branca. Um pessoal com roupa mais à vontade, gente feia (risos), gente normal. Antigamente era só a galera bonitona, um padrão. Então, isso pra mim, é importante. Porque o HC sempre foi parada de rua. E Straight Edge pra mim, é Punk que não bebe. Minha visão de Straight Edge é isso, não tem outra.
Pequena Ameaça - Nós ficamos felizes em ouvir isso (risos). Queríamos saber das outras vezes que vocês vieram e agora de novo, o que vocês sentem?! Quais os pontos em comum e diferentes da cena HC/Punk daqui de São Paulo e lá da Bahia?!

Fabiano - É engraçado, a LUMPEN, apesar de ser uma banda Vegan SXE, as duas vezes que viemos, principalmente a primeira vez que tocamos aqui em São Paulo e até outros roles que a gente acaba dando, acabamos sempre dando um role com a galera mais Anarco Punk por afinidade, por conhecimento. Aqui em São Paulo, essa cena SXE muita gente acaba nem tocando. Tem uns shows ou outros que rola que tocamos. Mas a galera que ficamos na casa é Anarco Punk são pessoas que já vem de afinidades de outros tempos.

R. Véio - A diferença que eu vejo da cena das primeiras vezes viemos, uma eu já falei que é ter bem mais negros nos shows. A gente acabou de traduzir o documentário "Afro-Punk" que é importante, porque o Rock é nosso. Pegaram o Elvis Presley botaram lá na frente mas se você for ver a origem do Rock é negra, aliás, a origem da maioria de tudo é da cultura negra ou oriental. Então, o que acontece, aqui em São Paulo dessa vez que viemos, notamos que está bem mais diversificado. É como o Fabiano falou, acabamos ficando mais com o pessoal Anarco Punk, temos vários amigos SXE´s aqui também, mas conhecemos o pessoal mais antigo, mais velho que temos afinidade, galera do CONFRONTO. Porque o vinculo da gente com HC é mais pelo lance da amizade ou de militância do que por música. Se você perguntar o nome de um bocado de banda pode ver que eu não conheço. Acaba sendo muito mais importante pra mim, dar um rolé com vocês, criar esse vínculo de amizade com a galera, porque isso que é HC e tinha se perdido muito. A galera vai lá, paga o show, assiste a banda e vai pra casa *. A diferença maior que eu vejo de Salvador é como lá é menor acaba todo mundo se falando. Estmos juntos com o pessoal do Rap. Eu estou muito alegre, hoje mesmo vai ter um grupo de Rap que vai tocar o "Bandeira Negra". Pode até ser uma identificação: "- Porra, a LUMPEN é uma banda SXE, mas é SXE da Bahia". Aí já é diferente. Tocamos em Maceió também e colocamos um grupo de Rap pra tocar e o pessoal sabe que temos essa ligação. Nós não nos afastamos das outras pessoas, não fazemos parte de nenhuma cena específica. Somos uma banda Vegan Straight Edge e gostamos de falar isso porque tem bandas que são SXE´s, que tem uma postura mais política e dizem para não falar que são SXE´s e acabam não sendo uma referência legal e fica só um modelo de Anarco Punk, um modelo de SXE um modelo disso e um daquilo. E na realidade tem vários tipos de SXE´s, vários tipos de Anarco Punks, tem pessoas que prestam e que não prestam em todo o lugar.

*Nesse momento um singelo garoto Punk e seu moicano mal cortado apareceu rateando grana pra entrar na verdurada.

R. Fofinho - A diferença principal, lá talvez por ser até um pouco menor, tem uma coisa não tão impessoal como tem aqui no HC. Você vê uma porrada de gente que não se conhece direito, chega no show, fala, toca e depois cada qual vai para o seu canto. Lá tem uma coisa mais unida, uma galera que se conhece mais, mesmo que não ande muito juntos, de repente até já andaram um pouco mais e hoje em dia até por conta de outros roles não estão mais juntos, mas que já tem uma idade maior e aqui já não vejo tanto. Talvez por ser uma característica daqui mesmo ou por ter inflado a um ponto que já não tem mais essa condição de estar mantendo essa ligação maior junto com os outros, que é um ponto que eu acho uma das diferenças maiores das coisas e dos lugares que são produzidos lá no Nordeste e no eixo Sudeste Rio-São Paulo principalmente.

Fabiano - Em Salvador faz show e sabe-se que vai "xis" pessoas em todo show sempre. Eu vejo aqui em São Paulo que tem show que não se tem certeza se vai dar alguém. Tocamos aqui quinta-feira (22/01/09) lá no Espaço Impróprio e estava tendo show em Osasco do Red Dons com o Homem Elefante. Lá em Salvador não, você faz um show e sabe que vai dar tantas pessoas, pode ser que não passe disso, mas vai dar sempre o mesmo tanto de pessoas e tem uma galera que cola sempre na mesma parada. São Paulo apesar de ser muito grande e ter muita gente, falam que às vezes tem show que não aparece ninguém. Se tiver show duma banda de fora em Salvador a galera vai pra prestigiar porque sabe o trampo que é, porque quando as bandas de Salvador vêm, sabe o trampo que é vir pra cá. Então, eu particularmente, quando tem uma banda de fora em Salvador, qualquer banda que seja eu faço bastante esforço pra ir porque sei qual é o trabalho sair de sua cidade pra ir tocar em outro lugar. E aqui parece que o pessoal as vezes não presta muita atenção nisso.

R. Véio - Porque tem tanta banda...

Fabiano - ... tanta banda. Todo mês tem muita banda passando aqui. Já teve vez da gente querer vir, e não conseguir porque no mês haveria tanta, tal e tal banda e não ia ter espaço pra gente.
Pequena Ameaça - Tem uma música de vocês que se chama "Zonas De Processamento De Exportação" que tem uma fala do John Zerzan no documentário "SURPLUS" de dano às propriedades. Vocês apóiam a sabotagem, a destruição da propriedade?!

R. Véio - Eu acredito no seguinte, tem uma coisa que tem que contextualizar, por exemplo, na questão de John Zerzan. No Carnaval Revolução* ele estava aqui e eu participei dos debates. Aquelas coisas que vemos nas fotos do pessoal tacando fogo em banco, tem que contextualizar, porque lá em Salvador nem precisa começar, é só pensar e os caras (a polícia) já estão matando. Então, dano à propriedade é necessário, mas a gente tem que ter a mandinga. Você não precisa fazer como faz lá. Tacando fogo num Mc´Donalds você vai ser preso. E se você for preso lá fora, você é visto como um ativista e aqui você é preso como um maluco, como ladrão. Sabotagem eu sempre fiz, desde sempre, mas você tem que fazer de maneira mais esperta, como falei, na mandinga. Não precisa fazer e ficar mostrando e dizendo a todo mundo. Ao contrário de lá fora que os caras vão pra frente mesmo, joga pedra, quebra e a polícia prende. E você também vê que morreu um cara numa manifestação, Carlo Giuliani**, algum tempo atrás, agora também na Grécia***, e porra, é um escândalo no mundo inteiro. E aqui está morrendo gente o tempo todo. É bem diferente! E se você morrer numa parada dessa, aqui seu pai e sua mãe vão dizer: "- porra, mas ele foi bater também num policial", porque a realidade da gente, a mentalidade das pessoas daqui por causa da violência é bem diferente. E essa música "Zonas De Processamentos De Exportação", fala exatamente sobre isso, existem maneiras de você fazer sabotagens, sem necessariamente jogar uma pedra. De repente você pode nem entrar num lugar, não usar determinado tipo de coisa, que é uma maneira de sabotar também. Principalmente pra quem toca, você pode ter uma banda pequena num lugar, mas você nem imagina que vai ter uma cara que vai chegar: " - cara, eu tava aquele dia que você tava ensaiando e falou uma parada..." isso já aconteceu várias vezes. Então, é responsabilidade, por mais que não percebemos isso, porque todo mundo é igual. Mas a galera que escreve, que fala, que faz fanzine tem uma responsabilidade muito grande no que está falando e mostrando. O que John Zerzan fala é que não existe violência contra a parede, contra a porta, quebrar algo não é... Mas você quebrando isso vai ter uma violência contra a gente e temos que estar preparados, porque todo mundo fala, fala e na hora que for preso será que alguém vai passar o ano juntando dinheiro pra botar advogado pra você? É a mesma coisa de briga, rola a briga, e o pessoal quer quebrar o cara, mas na hora que o bicho pega todo mundo sai e se você botou mais a cara será você que vai ter que responder. Eu acredito que a sabotagem é necessária, mas tem que saber quem é que vamos sabotar. Muita gente começa a dizer: “- ah, aquele cara é playboy, vou sabotar ele" e começa a querer justificar tudo. Aí o cara quer entrar no show de graça, querer pular show e não vê que tem um custo para fazer as paradas. Geralmente as pessoas que não organizam não sabem que se tem que pagar rango... Às vezes o pessoal fala que tem som pra botar a gente e não conhece que vai ter que pagar passagem, pagar comida, pagar um bocado de coisa. Porque se a gente pudesse pagava. Mas somos trabalhador também e não temos.

* Encontro Anarquista que ocorreu em três dias do mês de fevereiro de 2008 em São Paulo (nota dos editores).

**Carlo Giuliani foi um ativista italiano assassinado pela forças anti distúrbios em 2001 nas manifestações antiglobalização que ocorreram na Itália em contrapartida ao encontro da cúpula do G8 em Genova, Itália (nota dos editores).

***Alexandros Grigoropoulos jovem ativista anarquista de 15 anos assassinado pela polícia grega ano passado. A morte de Alexandros gerou protestos no mundo inteiro (menos aqui no Brasil [?]) e também uma indignação na Grécia ascendendo ainda mais o estado de Insurreição que estava se formando naquele país (nota dos editores).

Fabiano - Já nos chamaram pra tocar em tal lugar e pedimos a passagem e os caras acharam que estávamos cobrando, e não estávamos cobrando só estávamos pedindo a passagem porque não é nem não queremos, é não podemos. Aqui estamos pagando pra tocar porque quisemos, mas fizemos um esforço danado pra estar aqui. Dividimos a passagem em dez vezes e vamos ficar pagando, como foi no Carnaval Revolução ano passado que era uma parada importante pra nós. Então, não estamos cobrando, só estamos pedindo uma passagem e tem gente que não enxerga isso. Acha que é cobrar e que o certo é a pessoa está se bancando. Estamos mantendo uma ilusão com essa história de se bancar, porque uma cena que é sustentável é uma mentira, e enquanto a pessoa estiver tirando dinheiro do bolso pra manter essa cena ela está sendo uma mentira.

R. Fofinho - Até porque ela também acaba funcionando somente pra quem tem como se bancar, pra quem tem emprego, quem tem dinheiro...

R. Véio - A galera tem que se ligar e comprar as paradas pra todo mundo ter, porque você tem som e sempre põe de graça, e às vezes você briga com todo mundo e vai embora, acaba a cena. Então, em vez de falar que está rolando show, você tem que falar que está rolando o som, e o que é som, é o cara que bota o som, então não é a cena que está pagando. É bem isso, a galera tem que fazer uma parada pra se auto-sustentar.

Fabiano - É muito fácil falar que tem uma cena que a galera fica se sustentando desta forma, com os pais pagando e dando mesada para o filho e a filha viajar. Tem que se auto-sustentar, o show tem que ter um preço justo que consiga trazer as bandas e a galera contribuindo de alguma forma, buscando uma maneira de reduzir esse custo ao mínimo, está fazendo a correria. O custo vai existir e quando existir esse custo, não é justo está sendo bancado pelos pais ou outra coisa. Se queremos fazer uma cena de verdade, tem que correr atrás e fazer essa cena se auto-sustentar.
Pequena Ameaça - O próprio "faça você mesmo" diz isso, que a idéia...

Fabiano - A galera pega muito isso... a gente escuta essa coisa "faça você mesmo, então, as coisas tem que ser de graça..."

R. Véio - Uma coisa que rola muito, por exemplo, o cara às vezes não paga num evento ou numa palestra. E se você for cobrar a palestra o cara reclama. Aí ele vai num show duma banda que não é politizada ou qualquer coisa do gênero e paga trinta reais e fala que é porque aquilo é música. Lá em Salvador é a mesma coisa, o cara gosta de Los Hermanos, vai ao show, paga, assiste e depois fala que Los Hermanos não é político e tudo mais. Aí você faz um show e o cara não quer pagar... Quando o que deveria era ser o contrário.

Pequena Ameaça - Deu Para perceber que desde que formaram a LUMPEN das outras bandas, vocês tem um tempo dentro do HC, O Robson Véio aqui o próprio nome já diz. Queríamos saber como vocês conheceram o HC na Bahia e quais as influências?! Hoje, por exemplo, aqui em São Paulo, é uma coisa acessível, você conhece uma banda de HC e vai vendo as influências e começa a curtir um Punk/HC. E lá, o que vocês tinham para correr atrás?!

Fabiano - Inclusive agora, a LUMPEN está preparando um CD novo de covers só de bandas lá da Bahia que nos influenciaram nesse processo. Foi mais em shows e foi a partir disso, de shows e de estar promovendo evento junto e essas coisas. Ainda em Salvador continua sendo essa forma, não tem uma galeria do Rock, não tem uma coisa que você vai lá e encontra a galera HC, debate com um molequinho e o chama pra tocar em sua banda. Lá as coisas continuam acontecendo em shows, que são menos e estão rareando, a cena acaba rareando um pouco mais.
R. Fofinho - Eu particularmente foi numa época em que estava colando muito em shows, mas justamente por esse lance não tão frequentes. Nessa época, inclusive eu era uma pessoa mais travada, não era uma pessoa de chegar trocando idéia. E muito se deu pelo contato através de cartas, muito contato através de cartas, com muita gente daqui de São Paulo e do Rio. Eu tinha acesso a muita informação através de fanzine, pegava muita demo também de fora. Foi a partir daí que eu fui construindo essa história dentro do HC. Lógico, que foi a partir disso que começamos também a fazer uma coisa nossa, lá dentro de Salvador e depois em nível de Nordeste. Foi muito com esse primeiro contato com as próprias bandas de lá em 1996 e 1997. E muita coisa também daqui de SP-Rio que eu conheci através do contato de carta.

Fabiano - No meu caso, a situação foi engraçada quando comecei a me envolver com a questão do SXE. Eu tinha contato com o pessoal daqui de São Paulo, conhecia algumas bandas e tinha a No Deal em Salvador, só que eu não tinha contato com eles. Mas tinha um veículo em Salvador que se chamava TELEFANZINE que era um fanzine telefônico. Era uma caixa postal que todo dia, Robson (?) e outras pessoas faziam parte, gravava-se mensagens sobre os shows, comentários de discos, histórias de bandas, História do Rock em geral e etc... Você ligava e deixava a mensagem. Eu liguei pra lá e falei que queria ter contato com o pessoal do movimento SXE de Salvador. No começo eu fui até zuado por eles, porque eles achavam que eu era o playboy que não era da galera deles e que estava querendo se chegar. Foi o único jeito que tive. Acabou que a gente virou amigo, mas no começo eu era considerado o playboy que estava querendo se chegar (risos).

R. Fofinho - Na verdade ele continua sendo playboy, mas pelo menos ele é amigo da gente (risos).

R. Véio - Só pra frisar, Fofinho começou fazendo fanzine, outra coisa que era diferente. Hoje em dia todo mundo quer fazer uma banda. Eu comecei fazendo fanzine demorou muito para eu fazer uma banda. Fanzine era a coisa mais importante do mundo, porque você fazia e mantinha o contato. Banda era uma coisa que rolava quando a galera podia e se encontrava. Eu tive contato não foi com o HC, foi com o Punk, o pessoal que morava na rua lá em Castelo Branco. Foi na época do Cólera e o primeiro contato, show Punk, foi em 1988...

Pequena Ameaça - Os alicerces... (risos)

R. Véio -... Foi em 1988. O pessoal foi saindo e eu comecei a me interessar por política, a ler... O pessoal tinha aquela coisa do Punk de rua mesmo, aí foi indo... Indo, não tinha HC, só o Punk. Aí começou a se criar a cena HC, a gente se conheceu e foi criando. No começo teve muitos conflitos com os Punks. Aí surgiu a cena SXE que foi construída não só pela gente da banda, mas por outras pessoas também, as meninas, etc. E a formação que a gente tinha era essa, como Fofinho falou, através do esquema de carta que tinha até mais que hoje. O cara que te mandava a carta era o que estava interessado, hoje em dia entramos na Internet e tem um monte de besteira, antigamente não, o cara com quem se correspondia era o que tinha interesse. A pessoa não ia escrever, ir para o correio e depois botar uma carta pra você sem interesse, para falar besteira! É muito difícil.

R. Fofinho - É uma parada que estávamos conversando essa semana, o Folha estava respondendo uma entrevista pra Marcela e falava muito sobre isso, que o HC na década de 1990 a 2000, tinha esse esquema de troca de carta e como hoje acabou se perdendo o conteúdo das coisas por conta dessa facilidade. O cara conhece o outro hoje e cinco segundos depois manda um e-mail e já tem uma resposta. Acaba sendo uma coisa mais imediata também, não tem muito aquela magia... parece uma coisa meio Hippie mas...

R.Véio - O cara lá no myspace bota LUMPEN , baixa as músicas e ouve... antigamente você escrevia e ficava esperando, chegava a fitinha e você botava, ouvia e ficava ouvindo um monte de vezes. Hoje em dia não, você ouve uma banda, ouve outra e acaba não...

Fabiano - Eu estava até falando, se eu fosse ouvir realmente as bandas que pedem para adicionar no myspace às vezes, eu ia passar o dia todo ouvindo música. Porque é muita coisa, muita coisa acontecendo, muita música sendo feita e eu particularmente só acabo ouvindo algumas coisas que entro no site e desperta uma atenção maior. Se eu for pegar tudo que está acontecendo, é muita coisa... você acaba ficando sem filtro, porque tudo está muito fácil, tudo está muito na mão.
Pequena Ameaça - Queríamos saber sobre o CD novo de covers que vocês vão lançar! Citem algumas dessas influências.

R. Véio - Se tudo correr bem até o meio do ano sai o CD de covers e depois um novo mesmo.

Fabiano - No nosso de covers agora, nossa intenção é fazer e lançar em vinil e disponibilizar na internet. E quem gosta mesmo pega o vinil.

Pequena Ameaça - Vai sair caro... (risos)

Fabiano - A grande parte das bandas são bandas que a gente já tocou e que nos influenciou. E se a gente tocou é porque era uma parada que gostávamos e que acabou influenciando a banda que a gente toca hoje em dia.

Pequena Ameaça - São só da cena do Nordeste, de Salvador?!

Fabiano - É só banda de Salvador, a única exceção é a Execradores porque tem um baiano na banda (risos).

R. Fofinho - Na verdade a gente é bairrista (risos).

R. Véio - É que Execradores - tem várias outras daqui Point (Of No Return), Confronto, No Violence, tem banda pra caralho - mas Execradores tem uma relação intima, muito amiga. Quando a gente vem pra cá, a gente fica na casa dos caras, o pessoal vai pra lá, enfim. E porque a banda Mais Treta tocava também uma música da Execradores. E como a gente não vai tocar a Mais Treta... Sim, as bandas...

R. Fofinho - Vamos manter a cronologia: Antropofobia...

Fabiano - Licergia, Bosta Rala, Injúria, Adicional, Scooter Brigade, Escato, No Deal...

R. Véio - Execradores, Verso Dois...

Fabiano - Estamos fazendo uma versão da música do Verso Dois que é um grupo de Hip Hop de Salvador que tem Rangell que tocou na No Deal, na Sem Acordo com a gente também. Estamos fazendo uma versão duma música deles que vai acabar indo para o disco deles. Era interesse nosso que fosse para o nosso disco, mas achamos melhor que fosse para o disco deles. E acho que só.

R. Véio - Tem a Escato que é uma banda Anarco Punk que Joãozinho tocou bateria. A Licergia que é uma banda que seu eu pudesse comparar com alguma coisa, compararia com Rage Against The Machine, que misturava uma parada regional, inclusive o baterista toca com a Pitty hoje. Era uma banda grande que eu (e o Cavera) fazia vocal. Eu saí dessa banda, na época conversei com os caras, porque eu havia me tornado vegetariano SXE. Eu conversei com eles que ia sair da banda porque estava com uma pretensão de montar uma banda que todos fossem vegetarianos. No começo ficou todo mundo meio triste, porque tinha show lá da banda que dava umas 700 a 800 pessoas, só a gente.

R. Fofinho - Foi um dos primeiros shows que eu vi na época que eu era do Rock doido (risos).

R. Véio - A gente tocou junto com o Mundo Livre S.A... Na época que eu saí os caras ficaram meio assim... Mas depois entrei na No Deal que foi a primeira banda de lá com uma proposta de ser todo mundo vegetariano. Hoje em dias os caras são amigos, estão com projetos juntos. E vamos fazer uma homenagem para os caras também, inclusive a música "Qual É Mesmo" fala dessa relação Nordeste com Sudeste que quis tirar em dizer que o baiano é preguiçoso.

Fabiano - Em todas músicas, acredito que todas vão ter participação das pessoas das bandas com a gente também...

R. Véio -... Tocando ou cantando...
Pequena Ameaça - Há quanto tempo vocês estão dentro do vegetarianismo, veganismo?! Como que é lá na Bahia, tem manifestação, ativismo em prol o veganismo?! Se tem, quais os grupos ativistas?! Todos da banda são veganos?!

R. Véio - Todo mundo da banda é vegano. O que acontece em Salvador é o seguinte, lá está um refluxo. Tínhamos um espaço que perdemos, a "Casa MUV" que a gente ficou um ano e tanto, os caras arrombaram, roubaram coisas... lá teve vários enventos...

Pequena Ameaça - Era um Squatt?!

R. Véio - Não, não era um Squatt não. Primeiro teve a ocupação da "Casa Do Estudante" que participamos junto com o pessoal Anarco Punk, depois desalojaram lá armados e teve uma maior confusão. Aí o pessoal alugou a casa ao lado, que era o "Espaço Insurgente" que tinha o pessoal da Escato, depois um veio morar aqui em São Paulo e o outro foi para a Europa. Eles conversaram comigo e com Fabiano, nós pegamos a casa e mudamos o nome para "Casa Move". Pagávamos um aluguel barato, o pessoal reformou, fizemos grafite e várias outras paradas, muitas atividades, palestras... Antes eu participei da ADL (Animal Defense League), há muito tempo atrás. Atualmente lá, a questão do veganismo é divulgada mais através da banda e da Cooperativa de Rango Vegan, que as companheiras nossas participam fazendo lanche e fornecendo marmita vegana. Já vendemos coisas dentro do movimento e nos eventos de Hip Hop. Mas grupo não tem porque teve uma certa racha, que eu já havia comentado com o pessoal daqui. Tinha muita gente envolvida com a questão do HC, mas teve algumas confusões e acabou rachando por divergências, brigas pessoais que acabaram misturando entre todo mundo. Mas muita gente gosta da banda e ouve. E também participamos de eventos em outros lugares como teve com o pessoal do "Instituto Abolicionista" (Animal), fomos e botamos o rango e participamos de alguns debates. Tem o "Quilombo (Do Passo) 37" que era o antigo "Quilombo Cecília".* Nós estamos retornando agora e vamos fazer eventos.

*Nesse exato momento aparece um membro (Ruy) da lendária No Violence que agitou a cena lá pelos anos 90.

Pequena Ameaça - Vocês gostariam de falar algo que não foi mencionado na entrevista?! Vocês podem falar qualquer coisa.

R.Véio - Qualquer coisa? Do fundo do coração mesmo, às vezes o pessoal que é mais velho acaba nos influenciando, hoje mesmo, eu estou até arrepiado, é a idade (risos). Eu estava falando muito sobre as pessoas que nos influenciaram, e às vezes vocês também. Pra mim, sendo bem sincero mesmo, ter vindo tocar aqui, o show de ontem (23/01/09) eu botei até "xis" na mão e poguei, ver a galera nessa correria, fazendo as coisas, é claro que a gente influencia, mas vocês também. Eu vou voltar pra lá a todo gás. E tenho certeza que vocês também estão influenciando um bocado de gente, inclusive a mim. Eu fiquei feliz de ver a galera preta agitando e aquele clima de família, de estar junto. Porque não tem influência de um lado só não. A parada é troca mesmo.

Fabiano - Na questão do veganismo, quando vimos o Ruy (No Violence), eu lembrei, como Véio citou, tinha o "Quilombo Cecília" que era o espaço que tínhamos há seis anos e fechou. E era um espaço que deve ter sido o primeiro restaurante realmente vegano. Tinha outros que não usavam produtos de origem animal mas nenhum levantava a bandeira se dizendo vegano.

R. Fofinho - Lá era interessante, eu não sei se foi o primeiro ou o último, mas acho que era o mais importante porque, além de ser vegano era popular... O Quilombo sempre teve essa preocupação, por isso que eu digo que era o restaurante mais importante, por conta disso, independente de ter sido o primeiro.

Fabiano - Era de prato feito todo dia a um preço muito baixo. Mas por outros problemas de localidade e várias outras coisas acabou fechando.

Pequena Ameaça - Mais alguma coisa que vocês queiram falar, mandar alguém tomar no cu?! Pra gente tanto faz...! (risos)

Fabiano - Não, tomar no cu às vezes é bom! (risos).

R. Véio - Agradecer a vocês de coração pelo som, pelo rolé, pela amizade, pela entrevista e tudo. Quando vocês quiserem chegar a Salvador, podem chegar !!!



Myspace:
www.myspace.com/xxxlumpenxxx

SITE:
http://xlumpenx.wordpress.com/


Obs.: esta entrevista foi feita espontaneamente por XchristopherX, XpãoX e Vitor Trust Yourselfxxx no Jabaquara quando rolava o 17º Festival De Hardcore São Paulo (24/01/09).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Entrevista - Confronto

A seguir segue a entrevista feita depois do show no 17º FESTIVAL DE HARDCORE SÃO PAULO (mais conhecido como Verdurada - 24/01/09) com uma das maiores bandas de HC do Brasil.

Pequena Ameaça – Gostaríamos que vocês se apresentassem e falassem sobre o trabalho, o novo cd.

Felipe Chehuan – O Confronto é: Felipe Chehuan no vocal; Felipe Ribeiro na bateria; Maximiliano na guitarra e Eduardo no baixo. A gente está lançando o “Sanctuarium” que saiu em agosto (2008). A primeira prensagem já acabou praticamente. Saiu o vinil na Itália pelo selo "Refoundation" e na Rússia pelo selo "Self X True". A gente acabou de voltar duma turnê na Europa, fizemos por lá vários shows. E estamos fazendo a turnê aqui no Brasil. Já tocamos em São Paulo, Piracicaba, Belo Horizonte, Espírito Santo e estamos divulgando o disco novo agora.

Pequena Ameaça – E o novo projeto de gravação do DVD. Qual a importância de registrar esse trabalho?

Felipe Chehuan – Pra nós é realização de um sonho, como foi o vinil também. O vinil foi realmente um sonho que a gente conseguiu realizar. O DVD sem dúvida vai ser a comemoração de 10 anos de Confronto. Esse ano nós estamos fazendo 10 anos. A banda começou em 1999 e gravação do DVD vai ser aqui no Jabaquara e desde já estamos convocando geral. O DVD vai ser produzido pela gravadora "Seven Eight Life Records" e vai ter um cenário. E é isso, será o que o Confronto é. A gente vai tocar músicas de todos os discos desde o "Insurreição", "Causa Mortis", "Split" e agora o "Sanctuarium". Vai ser um resumo de tudo, um apanhado geral desses 10 anos.
Pequena Ameaça – Qual a importância da gravação do DVD, registrar imagens, fazer um trampo legal para o HARDCORE que não é um ambiente que se tem muita estrutura para essas coisas?

Felipe Chehuan – A gente está tentando aos poucos transformar isso, não que não tenha estrutura, eu acho que tem estrutura. A gente pode não ter... e eu sou até mais ousado, eu acho que a gente tem capacidade, como o Boka falou hoje, enquanto tiver saúde isso não vai acabar. O Punk, o HC, o Underground ele(s) faz(em) parte de todos nós, de tudo que a gente tem como meta. E o faça você mesmo é o prova de que é possível fazer acontecer. Prova que a gente vai fazer a gravação do DVD no galpão do Jabaquara que é um lugar que tem história com o Confronto. A gente poderia fazer em qualquer casa de show, mas a gente escolheu aqui, porque aqui tem um laço com história da banda e com toda essa galera durante todos esses anos que a gente viu chegar, viu participar da nossa vida. E a importância de imagens é ótima porque podemos expor de uma outra forma, não só o áudio mas também a imagem de ver a energia do show e tudo mais...

Pequena Ameaça – O Confronto é uma banda, que claramente a gente viu nesses 10 anos, que tocou no Brasil inteiro, na Europa inteira, que tem uma história do caralho e representa o HC aqui no Brasil e fora também como uma grande banda. Vocês são conhecidos pela postura Straight Edge e tal. Vocês acham e vêem o Straight Edge como uma militância política e uma mudança social?

Felipe Chehuan – Eu acho que o Straight Edge pode ser, da forma que eu aprendi, algo pessoal. Ele interfere sim, porque desde o momento que você faz um evento como esse, como é a própria Verdurada, que no cartaz coloca que é “proíbido fumar e beber” e você vê todo mundo se divertindo, agitando, absorvendo e compartilhando as idéias sem usar drogas já é um exemplo. A vida é feita de exemplos e atitudes, entendeu? E eu acho que por mais que seja uma postura pessoal ela acaba interferindo. A gente no decorrer desses 10 anos recebe inúmeras mensagens dizendo que a banda transformou a vida de algumas pessoas. As letras transformaram as vidas dessas pessoas e isso transformou a minha vida também porque faz parte de um coletivo, faz parte de uma troca de energia. E com certeza, eu acredito que serve como militância sim, mas eu não uso isso como imposição, jamais. O Confronto sempre foi uma banda feita para agregar e nunca para segregar. Em todos os momentos, desde o início da banda, a gente nunca pensou em fechar o elo e sempre expandir a idéias e tocar com outras bandas, com outro público. E a prova é que nos shows encontramos gente de todas as vertentes do Underground: a galera Thrash, do Metal, Straight Edge, a galera mais Crust, Punk... Na Europa é a mesma coisa e isso é muito legal.
Pequena Ameaça – Vendo as letras do Confronto percebemos que elas tem uma certa tendência libertária. Qual a posição política que vocês se enquadram?

Felipe Chehuan – A gente não levanta uma bandeira, mas a gente se enquadra em pessoas que acreditam que é possível transformar através de ações, através de exemplos. A gente acredita na liberdade. E a liberdade tem que ser conquistada, não tem que ser aguardada. A gente tem que lutar por ela. A gente não levanta a bandeira de nenhum “ismo”, mas está na cara que a gente tem uma tendência voltada para o povo. A gente está do lado da massa e isso é obvio.

Pequena Ameaça – Colocando em prática as idéias. Vocês participam de algum grupo ou organização que tentam fazer isso lá no Rio?

Felipe Chehuan – Olha, eu já participei mais ativamente na época que eu estava estudando na faculdade. Eu fiz parte de grupo de libertação animal como a própria "SUIPA"*. No momento agora de 2009 a gente está muito atarefado com o Confronto. Estamos usando mesmo mais a banda como nossa plataforma de expressão. Mas estamos o tempo inteiro apoiando as idéias de todos os grupos. E pra gente o mais importante e ver isso aqui acontecendo agora e trocar idéia com vocês é sinal que as coisas continuam porque durante um tempo atrás, recente, nós vimos que estava tudo descambando pra estética e hoje eu vejo que não. Porque quem ficou aí é quem acredita e isso é mais legal. É voltar os zines nos shows, as idéias, as palestras... Isso é importantíssimo. Quando a gente começou era assim, ficou um tempo sem isso e agora é importante voltar porque não só as bandas são importantes, mas toda a galera. E vocês vêem que o show não é feito só pela banda, mas por todos. Vocês viram como foi hoje, o que seria do show se não fosse a participação de todos. (?)

*Não sabemos se esta é a forma correta que se escreve o nome do grupo [nota dos editores].

Pequena Ameaça – Por curiosidade, você fez faculdade do quê?

Felipe Chehuan – Eu fiz direito.

Pequena Ameaça – Exerce?

Felipe Chehuan – Estou exercendo.
Pequena Ameaça – Desse tempo que vocês vêm representando o HC e como já foi dito na entrevista, ele estava descambando há um tempo atrás, vocês acham que o Confronto consegue realmente nos shows passar suas idéias? As pessoas que vão nos shows conseguem captar mesmo as idéias da banda?!

Felipe Chehuan – Olha, eu acho que todo mundo não, mas boa parte sim. Porque a prova são as mensagens de carinho que a gente recebe das pessoas nos e-mails, myspace, Orkut, na internet, cartas e nos shows. É legal ver a galera viajando, vindo de longe, de outros estados para os shows é a prova. Não todos, mas muita gente, acredito que sim...

Pequena Ameaça – Você vê um resultado então?!

Felipe Chehuan – Vejo, sempre.

Pequena Ameaça – E em questão de mudança social vocês também vêem algumas pessoas engajadas que tem uma tendência mais política?!

Felipe Chehuan – Eu vi gente que começou no Rock da forma mais errada possível, sem nenhuma perspectiva, sem nenhuma visão de futuro - e não só ouvindo Confronto, mas outras bandas no meio HC, no meio do Underground brasileiro - mudando sua idéia de mundo começando a tentar produzir coisas, começando a tentar a fazer a diferença nesse mundo que a gente vive, porque não basta só a gente fazer peso na Terra, a gente tem que tentar fazer alguma coisa aqui pra tentar mudar, como dizia a letra do POINT (OF NO RETURN) não se revoltar é ser muito idiota com toda essa situação que a gente vive hoje em dia.

Pequena Ameaça – Queríamos que vocês falassem da cena do Rio de Janeiro e depois um pouco da do Brasil. Vocês conseguem ver alguma racha, alguma briga entre os grupos que integram o HC brasileiro?

Felipe Chehuan – Acho que não. Acho que no geral a cena brasileira é muito boa. A cada dia que passa a gente vê mais pessoas envolvidas nos interiores, nas cidades mais distantes. No interior do Rio está muito bom, Volta Redonda, Petrópolis, Cabo Frio são cidades bem distantes do centro que tem uma cena incrível. E lá no centro do Rio tem uma cena que está em ascensão. Tocamos terça feira agora (20/01) no feriado em Jacarepaguá e foi incrível. Vimos neguinhos que nunca tínhamos visto antes participando e o show estava lotado. Está em ascensão mas nada se compara a São Paulo e sem dúvida São Paulo é a maior cena do Brasil e talvez uma das maiores da America latina. E tocar aqui, pra gente, é sempre muito bom. É sempre casa cheia.

Pequena Ameaça – No Rio como surgiu, quais foram as influências, como vocês começaram no HC, como vocês montaram a banda? Foi uma coisa lenta, vocês se conheciam desde pivete...?!

Felipe Chehuan – A gente é amigo a bastante tempo, a gente se conheceu no meio da cena do HC do Rio na época do REAJUSTE e ANGEL OF QUARREL. Nós nos juntamos em 1999 e montamos a banda. As influências sempre foram o Metal antigo. A gente queria fazer uma banda bem pesada com o som tipo SLAYER, SEPULTURA (velho), OBITUARY que está na cara; com uma temática HC também, sem dúvidas EARTH CRISIS, CRO-MAGS e o próprio RATOS DE PORÃO que influenciou a banda por cantar em português – o RATOS pesou bastante – desde o início a gente teve a idéia de cantar em português. A gente nem cogitou a idéia de cantar em inglês, isso foi meio que natural. As primeiras letras que a gente escreveu já foram em português.


Pequena Ameaça – Quais são as influências literárias que vocês tem para escrever as letras?

Felipe Chehuan – Eu nem vou dizer literária, as influências são abrir a porta, a janela de casa, olhar a rua, olhar o mundo que a gente vive, a realidade da Baixada que é o lugar onde a gente mora. Não precisa ler muito não. Vou te dizer é só abrir o olho, dar bom dia pra mãe e sair na rua que você vai vendo inúmeras coisas que nos influenciam a escrever.
Pequena Ameaça – Partindo daqui agora vocês vão lá ao IMPRÓPRIO ver o show da LUMPEN que é uma banda que com vocês tem uma história e conhecem os caras a um tempo. Como vocês vêem, depois de tanto tempo que começaram, o HC hoje? Ele tem a mesma vibe, a mesma energia de antes? Quais as coisas positivas e negativas de hoje comparado há um tempo atrás?

Felipe Chehuan – Por falar da LUMPEN, a gente adora os caras. Tocamos com eles no Nordeste em 2005 eu acho. Fizemos um turnê incrível em várias capitais. Temos uma história com os caras e vê-los aqui hoje, e também o Rui do NO VIOLENCE, os caras do POINT (OF NO RETURN), os caras antigos, é incrível... Os caras de santos, o "Cantifas" que é irmão e desde a primeira vez que a gente tocou em São Paulo ele vem. Mesma coisa não é, as coisas mudam, e eu acho até bom que mudem. Se fosse sempre tudo do mesmo jeito seria ruim e eu acho bom mudar mas é bom que a cada dia que passa a gente vai mudando junto também e vemos que as coisas estão mais estruturadas, os shows estão mais estruturados. Hoje os eventos já são muito mais respeitados que antes, porque antes era um pouco anônimo. A galera fazia e ninguém ficava sabendo. Hoje o cara sabe que tem, ele não pode nem aparecer, mas todo mundo sabe o que é a Verdurada, o que é HC, o que é Metalcore, Straight Edge, política dentro do HC, política dentro da música, enfim...

Pequena Ameaça – Não sabemos se vocês têm acompanhado o que está acontecendo na Grécia. Lá é um cenário que está em clima de insurreição, o pessoal está indo pra cima, está sabotando os bancos, está fazendo um monte de coisas, está tomando (ocupando) rádios em prol a luta, etc. E pegando o primeiro cd de vocês, o "Insurreição", vocês mantém as mesmas idéias?

Felipe Chehuan – Sem dúvida, o povo tem que tomar o que é nosso de direito. O sistema só não mata a gente completamente porque ele precisa do nosso trabalho. A gente não vive num regime de escravidão, mas a gente vive num regime de semi escravidão. Nós somos alimentados com um salário mínimo pra comer, sobreviver e ter força pra trabalhar no dia seguinte. E assim a gente vai servir o resto da nossa vida. E enquanto isso, se não mudarmos essa situação, vamos ser eternos escravos. Enquanto o povo não acordar e notar que a única maneira de mudar é através, não de uma reforma, mas de uma revolução pessoal e partindo para uma armada, tendo uma noção de que ele é no sistema e do ele faz parte, rápido ele acordará porque a grande massa é sempre a explorada, entendeu? É devorar os livros e cair dentro mesmo porque esse é o caminho.

Pequena Ameaça – Vocês têm alguma mensagem final pra esse dia, como é tocar na Verdurada hoje depois de tanto tempo, a galera agitando...?

Felipe Chehuan – Queria agradecer a todo mundo que colou e tocar aqui é maravilhoso, sempre foi maravilhoso. A gente tem uma história com esse lugar, são 10 anos tocando aqui. Desde que a banda surgiu a gente toca na Verdurada e sempre foi muito bem recebido e o show como foi hoje é a prova de que a gente está muito feliz e querendo voltar. Queríamos agradecer a vocês pela paciência, por ter esperado, pelos desencontros. E estamos aí para qualquer coisa e qualquer dúvida. Valeu mesmo!

Myspace da banda:

http://www.myspace.com/confronto

Fotolog:

http://www.fotolog.com/x_confronto_x


Esta entrevista foi realizada por xChristopherx, xPãox e xVitorx.

OBS.: Parte das questões da entrevista foram feitas e elaboradas por xchristopherx, xlazarox e xpãox dias antes do evento, as outras foram totalmente espontâneas com ajuda do Vitor Trust Yourself. Agradecemos ao Nerd retardado do MAUA ( BUC Videos e Isabella Superstar) por ter nos salvado emprestando a camera para gravação do audio; a Deise do Revoluta Acessoria por ter feito o contato com a banda, sem ela esta entrevista não seria possivel, valeu pela atenção e por sua "ajuda"; e ao Confronto!

Fotos postadas: retiradas de páginas pessoais de competentes fotógrafos que registraram o 17º FESTIVAL DE HARDCORE SÃO PAULO .

No Olho Do Furacão




De que adianta discutir monstros sagrados do pensamento? Essa coisa de ter que respeitar tudo e todos
nada mais é que a moral se manifestando em menor escala e de maneira diferente daquela que conhecemos e vemos todos os dias.
Teorizar e devagar dentro de um gabinete acarpetado não muda absolutamente nada.
Não quero o respeito! Não quero aparências! Não quero pensamentos que não se aplicam em minha realidade!
QUERO ESTAR NO OLHO DO FURACÃO, poder tocar e sentir a mudança se materializando na minha frente e até mesmo andar nas ruas sem lugar pra ir ja é algo mais efetivo do que acumular um monte de informção só para parecer "culto".
Não estou dizendo pra que todos queimem seus livros e finjam que eles não são importantes, a questão é : o que você sabe de verdade? E o que você faz com o conhecimento que tem?
Animais mesmo tendo uma capacidade mental bem abaixo da dos seres humanos tem muito mais coragem que nós que esperamos anos até aprender uma coisa pra, daí, então, pensar se possamos fazer algo.
Mais uma vez o equilibrio se mostra presente.

APRENDA SIM TUDO O QUE PUDER, MAS VÁ PARA A PRÁTICA O QUANTO ANTES. SÓ A PRÁTICA MUDA AS COISAS!

XLAZAROX