“Quando você transmite informação, você se torna a própria informação”
- ADILKNO
Sim, é possível estar possuído… não por demônios, espíritos ou outras supostas entidades sobrenaturais. Sim, o que nos possui, minando qualquer tentativa de autonomia e autocriação, é a identidade. Essa coisa sem vida própria que nos guia para a morte como se estivéssemos famintos, cavalos açoitados pelas garras de algum fantasma.
No jogo da Insurgência - um combate vivido na guerra contra a civilização - é estrategicamente necessário usar identidades e papéis. Infelizmente, o contexto das relações sociais dá aos papéis e identidades o poder para definir os indivíduos que tentam usá-los. Então eu, Feral Faun, torno-me… um anarquista… um escritor… um discípulo de Stirner, pós-situacionista, um teórico anti-civilização… se não por minha própria visão, pelo menos aos olhos das pessoas que leem meus textos.
Eu assumo essas identidades somente em estado semiconsciente, com uma pequena consciência das armadilhas que posso encontrar. Elas se tornam ferramentas que eu posso usar para criar interações com outras que integram prática, análise, paixão em um insurgente jogo consciente e as abandono quando elas se tornam inúteis. De preferência, essas identidades são armaduras coladas em mim que impedem a possibilidade de interações reais… substituindo-as com as absurdas relações das identidades que os indivíduos realizam e não desfrutam de outras singularidades, mas, preferencialmente, encontram conforto em alguma imagem superficial da similaridade. Em tais relacionamentos, paixões, intensidade, amor, admiração, crueldade, a interação de uma critica real não tem lugar. O jogo consciente da insurgência é substituído por um jogo de raiva simulada e protesto ritualizado a respeito de todas as questões convenientes - que é o jogo do ativista anarquista e ativista profissional.
Bem, eu estou cansado, cansado de ser dominado pelo fantasma da identidade, cansado de interações meia-boca na qual ninguém ensina ninguém. Cansado do ódio simulado e protesto ritualizado que estão fora do jogo insurgente, cansado de contextos sociais que são sempre caixas que me isolam e me nomeiam, cansado de ser apenas informação para as pessoas ao invés de carne, sangue, desejo, paixão e intensidade. No momento em que você ler isso, Feral Faun deixará de existir… esta é a última palavra.